Pai que é Palestra não passa nada por DNA, só passa pela SEP

Fala, Babbo. Sete anos que eu dei na rádio a sua partida. Você me inspirou tanto na vida e na paixão pelo que fazemos que até a notícia mais exclusiva que eu dei em 32 anos de jornalismo foi quando você nos deixou.

Não consegui falar pros meus filhos. Mas falei para milhares que ainda hoje lembram o que eu falei. Meu texto que o senador Suplicy não conseguiu ler no plenário porque não aguentou. O que confesso hoje não consigo ouvir.

Até porque tem tanta coisa para te falar desde então… Do Brasil, melhor deixar quieto. E torcer para que não deixem mais quietos nossos colegas… Da família eu queria te apresentar a Toffee, nossa cachorrinha que nasceu dois dias antes de você partir. A Sil você conheceu em 1984. Falou com ela por telefone do hospital quando começamos a namorar, meses antes. E você lembra que ela ficou de mãos dadas com você na sua última noite na UTI. Coma irreversível. Mas os seus batimentos aumentaram quando ela falou do nosso amor, da paixão pelos seus netos. E do nosso Palestra.

Aliás, você sabe que caímos uma semana antes do seu AVC. Não falei então. Como sempre, não precisávamos falar muitas coisas. Mas o Ademir da Guia te poupou do futebolixo de 2014. Quando pedimos para cair e fomos salvos. Como Nobre, Galiotte, Crefisa, Mattos, Allianz Parque, Turner e Avanti! nos recolocaram no topo com dois Brasileiros e uma Copa do Brasil desde 2015.

Ou melhor. A nossa paixão ajudou a pagar e elevar as contas. Fizemos grandes times como aqueles esquadrões que você me ensinou. Belas festas em casa enquanto ocupávamos a Palestra, a antiga Turiaçu. Grandes conquistas fora. Até porque dentro tem gente de dentro que está se perdendo. E nós vamos junto. Solidários ou não.

Dudu virou ídolo máximo. Respeito igual pelo Prass. Mais alguns ganharam nosso carinho. Alguns que depois foram apedrejados pela barbárie desta terra plana binária.

Vivemos dias de intolerância e ignorância, Babbo. Impaciência muita e mútua. Sofremos também por isso. Dos dois lados. Quem tenta ser equilibrado é "xingado" de isentão. Agora é ruim ser o que devemos ser no ofício: isentos. E quando nos posicionamos, vem uma malta que diz que você só pode falar de futebol. E uns que só do Palmeiras. E alguns deles que só posso falar bem…

Não está fácil. Mas quando foi tranquilo para nós? Em qualquer campo?

Fico orgulhoso e ainda com mais saudades quando muita gente fala que você faz muita falta por aqui. Mais ainda feliz quando dizem que ainda bem você foi poupado destes últimos anos de Brasil e desta terra plena de terraplanistas e de ETs e terráqueos pluripatéticos.

Seus netos são tudo aquilo que você sabe. Seus filhos têm mulheres maravilhosas. Sua mulher, dona Lucila, tem uns altos e baixos. Normal para quem não tem mais você ao seu lado. Mas o que posso dizer é que essa baixinha é tudo que você amou. É muito mais. Ela não só é quem mais entendia de economia em casa. É quem mais sabe o que é familia.

Beijos a todos aí do seu lado. Peça para que eles nos iluminem aí de cima. Em todos os campos.