Palestra de pai para filho

Não sabia como chamava o menino Bruno no dia de Palmeiras 4 x 0 São Paulo, pelo BR-15. Não sabia quem era o pai Alexandre flagrado pela lente de Sérgio Ortiz da Forza Palestrina. Mas conheço os dois e outros milhões desde que frequento estádios.

O pai foi filho da fila. Chamou de filho de tudo muitos que desgraçaram em 16 anos sem títulos. Muitos que pouca graça deram nos últimos anos (até 2015) de poucas conquistas e muitas quedas.

A emoção do pai vendo quatro gols no Allianz Parque contra o rival que leva vantagem histórica no Choque-Rei é a de todo pai que teme que o filho desvirtue. Va pelo mau caminho. Tenha outro gosto. O maior desgosto de um pai de qualquer time.

O filho pode ser tudo. Desde que do nosso time.

Não conheço o pai. Mas sei que a missão dele já está completa. Esse menino não sabe quem é Leandro Pereira, mas o acha Evair desde ontem. Não sabe como se escreve Victor Ramos, mas tem certeza que se soletra Luís Pereira. Rafael Marques é Edmundo pra ele. Cristaldo é o Fedato deste século. Egídio é mezzo Roberto Carlos, mezzo Jair Rosa Pinto.

Coisa de criança. Coisa da criança mais feliz da foto. A que está chorando, à direita.

Aquela que sabe que no domingo ajudou a realizar o maior sonho do menino mais velho da foto: o de ter um filho palmeirense.

Frase e foto que valem para qualquer torcedor de qualquer clube em qualquer tempo. O elo pai e filho, neto, pai e filho, bisneto, neto, pai e filho, passa demais pela defesa que ninguém passa. Pelo amado clube brasileiro. Pelo campeão dos campeões. Pelo Santos sempre Santos. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. Pelo tricolor de coração. Pelo campeão desde 1910. Pelo nome de um heroico português. Pelo Grêmio onde o Grêmio estiver. Pela glória do desporto nacional. Pelos que jogam com muita raça e amor. Pelo grande clube na cidade.

Por todas as paixões que não precisam de letras. Apenas desse sentimento que é mais importante que o teste do pezinho. É o pé-quente no estádio. É a mão firme para segurar nas derrotas. É a cabeça quente para ser encostada no peito e explicar que nem sempre se vence. Mas se vence sempre quando se tem um amor como o de pai para filho. De filho para pai. De clube para clube.

Alexandre é o pai que a Forza Palestrina flagrou chorando em um dos gols do 4 a 0 contra o São Paulo, em 2015. Quando a Copa do Brasil parecia improvável, quando o Brasileirão era delírio.

É o pai do Bruno que a lente do Sergio Ortiz do Forza foi captar nos 2 a 1 contra o Sport, na 32a. rodada do BR-16. Uma Copa do Brasil vencida, 15 jogos sem perder, seis pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o filho sobre os ombros do pai.

O cangote talvez esteja mais arqueado. O menino cresceu. O amor deles pelo Palmeiras, não.

Esse não é maior e nem menor que o de nenhum outro clube. Como um pai não ama mais ou menos um filho.

Ele apenas se adapta ao peso e ao tamanho do filho, e ao peso dos próprios anos passados e pesados.

Alexandre não ama ainda mais o Palmeiras por ele ser então o maior favorito ao título. Ele talvez só ame cada vez mais por ter ao lado, no colo, ou nos ombros, o maior amor – o Bruno. Paixão tão incondicional quanto o nosso clube. Nosso time que, às vezes, tá meio caído, quando não rebaixado. Meio perdido, quando não perde quase todos os jogos. Meio machucado, quando não tá todo lesionado e lesado.

Nessas horas que a gente é mais pai com o filho. Nesses jogos que a gente tem que dar ainda mais colo, ombro, apoio e amor aos nossos meninos de verde e branco.

Por isso não entendo, não compreendo, e jamais vou admitir quem vaia o time com a bola rolando. NUNCA. Quem deixa o campo antes de o jogo acabar. JAMAIS.

É como deixar nosso filho largado. Não educa assim. Não aprende ali.

Não vai. Não vaia.

Na boa, de boa, isso é apenas simpatizar.

Amar é torcer. É pegar e cuidar e levantar e erguer e animar e gritar e chorar para poder sorrir.

Amar é ser Palmeiras antes de ser gente. É ser mais gente de tanto que se é Palmeiras.