Palmeiras 1 x 1 Flamengo, rodada 26 do BR-16

Não teve cheiro de hepta e nem aroma de enea. Não teve vencedor no clássico no castigado gramado do Allianz Parque.

Mas teve mais uma vez a vitória do futebol. O mesmo esporte que fez festa em Santos Dumont e Congonhas na véspera com a torcida rubro-negra, e nas ruas e arquibancadas palestrinas no dia do jogo e de fogo que sinaliza belos tempos.

Quem ama futebol e o clube acima do próprio jogo sabe o que foi o empate por 1 a 1. O Flamengo mostrou que vive melhor momento que o Palmeiras sufocando o Porco Louco inicial de Cuca. O líder e dono da casa apenas chegou perto de Muralha a partir dos 6

minutos. E ainda assim só foi criar a primeira chance aos 42, três minutos depois da justa expulsão de Márcio Araújo pelo conjunto da obra – três faltas duras.

Até então, as melhores oportunidades eram cariocas. O jogo estava equilibrado até o vermelho. Quando Zé Ricardo foi precipitado ao sacar o armador Diego. O volante verde Gabriel não voltou para a segunda etapa. Cuca optou por um um time mais ofensivo com Barrios – que não entrou bem. O Palmeiras ficou mais com a bola e

no ataque. Mas criou pouco.

Zé Ricardo foi dar mais qualidade à armação. Sacou Gabriel para colocar Alan Patrick pela esquerda. O ex-palmeirense entrou em campo e se encaminhava para o lado dele (o esquerdo) quando Everton saiu da

direita para rodar o meio. Zé Roberto foi atrás. Ninguém deu bola ao substituto. A pelota se ofereceu depois de um lateral mal marcado para eles. A Lei do Ex nunca foi tão celeremente executada. 1 a 0 Flamengo. Com Patrick aberto e solto na direta como não estava planejado. Foi apenas consequência da entrada dele em campo. E a saída momentânea dos 11 palmeirenses que pareciam estar fora do espírito do jogo.

Celerado ficou o Palmeiras. Perdeu pontos e o parafuso. Deu perigosos contragolpes aos bravos rubro-negros. E Cuca empilhando atacantes. Foi para a ponta ou a vice-liderança com o

incansável Moisés e o discreto Cleiton Xavier na volância, Dudu (cada vez melhor), Gabriel Jesus e Rafael Marques na frente, e Barrios não se achando por ali.

E tome chuveiro. Passe errado. E enfim mais finalizações verdes até o belo empate de Gabriel Jesus. Aquele que ainda tem gente que acha que tem de entregar quando já foi vendido… Aquele que não pode jogar pelo excesso de jogos, que é um absurdo, que

onde já se viu jogar dois jogos decisivos, que futebol moderno,

que fisiologia, que crime! Que nada!

Que garoto bom de bola! Só não quer Gabriel Jesus em campo quem não quer talento. Ou quem não é Palmeiras.

Ele foi e empatou em mais um lance que nasceu depois de um arremesso lateral de Moisés. E quase o Palmeiras virou o placar embalado pelo espírito de Euller na Copa do Brasil de 1999, quando eliminamos o Flamengo e encaminhamos a conquista da

Libertadores com um 4 a 2 sensacional.

As chances enfim apareceram contra o Flamengo que não merecia perder e foi

gigante. E pode e deve mesmo celebrar o ponto ganho.

O Palmeiras também pode comemorar o empate que foi bom demais pelas dificuldades do jogo, pelas qualidades do rival, e pelo fedor de derrota que corroía o Allianz Parque por 19 minutos de perda de jogo e de liderança até o empate que não teve gosto de vitória e nem de derrota. Mas teve o doce aroma da delícia que é o futebol.

Ambiente de festa que nem os imbecis que se pegaram em Brasília no turno e esvaziaram os próximos jogos das duas equipes punidas pelo tribunal conseguem estragar. Espetáculo também propiciado por administrações austeras e também ousadas. Partida emocionante como o vídeo veiculado pela TV Palmeiras logo depois, com a

emoção de um jovem torcedor ao ver o ídolo tão de perto no vestiário.

– É o Fernando Prass!

Foi assim que se derreteu o pequeno torcedor. O boné maior que a nossa paixão não conseguiu esconder a emoção do menino que não sabemos o nome. Mas você pode chamar de você. Como vou chamá-lo de eu.

Ele sofreu com o empate. Com a dúvida da escalação de Gabriel Jesus. Com o empate com gosto de empate. Com a liderança com gosto de ponta. Com a certeza de que segue tudo incerto. Mas a confiança do que a gente acha mesmo que vai acontecer no final do campeonato e só dizemos pro travesseiro. E ainda batendo três vezes no estrado da cama.

O menino mais feliz do mundo depois do empate entre os melhores times e a vitória do futebol era aquele. Ele não vai

lembrar que foi 1 a 1, por mais inesquecível que tenha sido a festa

no Allianz Parque. Ele talvez não vá lembrar o nome dos amiguinhos em volta dele. O que ele comeu. Que Pokemon ele caçou. O que é Pokemon?

Na vida que ele vai ter ganhando, empatando e perdendo Palmeiras, o que o menino vai guardar dessa noite mágica foi que ele viu o goleiro do nosso time. O ídolo número 1 que substitui o insubstituível Marcos número 12. O cara com dor de cotovelo por excesso de amor ao que faz pelos fãs.

– É o Fernando Prass!

A gente envelhece e perde o encanto pelas gentes e pelos jeitos. Mas esse olhar infantil nós ainda conseguimos ter pelos nossos.

Vamos tentar elevar os espíritos e

entender que os rivais também podem e devem olhar assim além dos muros e para as Muralhas deles. Não é só o Prass. São outros pra todos. Até alguns que serão suspiros fugazes como paixonites adolescentes. Mas shippar é torcer por um relacionamento como esse trolla todos os haters do futebol.

A linguagem pode ser moderninha. Mas o amor de um torcedor por um clube e por um ídolo é tão clássico como um Palmeiras x Flamengo.