Pantera verde

Este texto é pro leitor que disse que toda vez escrevo contando histórias do passado. É fato. Só vive dele quem tem. Quem não tem futuro é quem despreza o que foi feito e não tem a menor noção do que está fazendo.

Então senta que lá vem história!

Pelas minhas contas, no Seletivo do SP-81, Gilmar fez 397 defesas em Palmeiras 1 x 0 Corinthians, gol de Freitas, no Pacaembu. Tanto que um sem-pulo de Sócrates na pequena área rendeu um “adivinhe o que aconteceu? De-fen-deu, GILMAR”, na narração de José Silvério, na Jovem Pan. Treze anos depois, mesmo estádio e rival, final do BR-94, Velloso fez algo quase parecido, no empate por 1 a 1 que deu título à Via Láctea da Parmalat.

Como São Marcos fez tudo e muito mais em 180 minutos nas quartas-de-final da Libertadores-99, quando foi canonizado contra o mesmo rival, no Morumbi. Como Fábio Crippa garantiu o empate sem gols na semifinal da Copa Rio, em 1951, contra o Vasco, que fez com que meu pai tivesse uma crise de apendicite.

Leão garantiu com atuação monumental o 1 a 0 no primeiro jogo quadrangular do BR-73 contra o Cruzeiro, no Mineirão. Como Marcão segurou o River no Monumental de Núñez na derrota por 1 a 0 que foi devolvida com juros e correção futebolística nos 3 a 0 no Palestra de Alex, na semifinal da Libertadores-99.

Grandes goleiros garantem grandes times. Suspendem os efeitos das pressões rivais. Nem todas as grandes equipes começam com grandes goleiros. Mas, certamente, goleiros com as mãos, pés e coração de Jailson fazem o que fez em quatro defesas difíceis contra o Santos. E uma impossível no final do primeiro tempo. Daquelas de guardar nos olhos e ainda assim não acreditar. Esfregar os olhos e não entender como ele fez. Como nem ele deve ter entendido o que defendeu.

Como todo grande apaixonado, não tem como explicar. Apenas aplaudir em pé. E torcer para o Palmeiras estar mais atento e intenso para a volta. Para evitar o sufoco final que a Pantera Negra do Verdão evitou na ida. Jailsão da massa que defendeu uma bola impossível (e outras 4 difíceis) contra o Santos como se fosse Primo, Nascimento, Jurandir, Oberdan, Fábio, Laércio, Valdir, Picasso, Maidana, Leão, Benítez, Gilmar, João Marcos, Zetti, Velloso, Carlos, Sérgio, Fernández, Marcos, Diego, Prass. Jailson defendeu como se fosse Jailson. Como se fosse ele mesmo. Como se fôssemos nós mesmos.

A Academia de Goleiros que consegue revelar até veteranos de mais de 35 anos quando chegam ao clube. Goleiros que eram bons e não sabíamos. Ou viraram ótimos e também não sabiam. A defesa na cabeçada do não menos imenso Renato foi o lance que reuniu dois veteranos que somam 74 anos. Quase a idade do Pacaembu que já viu enormes defesas. Mas poucas como essa nessa idade. Coisa de Jailson. Caso do Palmeiras.