Roger é o cara

Ele era o meu preferido para substituir Cuca quando o eneacampeão de 2016 foi cumprir a promessa de ficar com a família. Por questão de horas o telefonema de Alexandre Mattos foi tardio. Ele já havia combinado de conversar no dia seguinte com o Atlético, com quem acertou para ser campeão mineiro em 2017, fazer a melhor campanha da fase de grupos da Libertadores, mas depois não dar liga. Ou render o esperado.

Roger foi demitido, não atendeu a alguns chamados de outros clubes (como já havia feito quando saiu do Grêmio, em 2016), e prometeu à mulher ficar com as filhas Júlia, 9, e Gabriela, 2, em Minas, para onde haviam se mudado de mala e cuia de chimarrão.

É a escolha de vida e também de carreira que faz e disse na sexta à noite, no longo papo no Esporte Interativo, que pretende continuar repetindo. Prefere acompanhar o crescimento da filhas sempre que possível e iniciar os trabalhos do “zero” em início de temporada. Assumidamente “utópico”, ele entende que se outros colegas também pudessem dizer “não” aos cartolas que trocam treinadores a torto e sem muitos direitos e obrigações, talvez a nossa incultura imediatista, resultadista e celerada seria modificada. Para muito melhor.

Como o Palmeiras parece estar em excelentes mãos. Roger é tido pelos colegas de cursos da CBF e por quem já trabalhou com ele como o melhor da geração. Pelo preparo e estudo que precisa de um trabalho como esse, em um clube como este, com um elenco como aquele, para deslanchar como um dia Tite, o treinador de cabeceira dele, também conseguiu. Também com um discurso teórico por vezes professoral. Mas com inegável conteúdo. E, posso dizer, dos mais impressionantes que já vi.

Roger observa e conhece muito. Estuda demais. E sabe o que fazer. Poucas vezes um treinador com tanta capacidade para conhecer e querer saber muito mais. Aberto ao diálogo. Mas, também, com seriedade para se impor quando necessário. Como ele conversou sério com Felipe Melo, ao lado de Mattos. Cara a cara. Olho no olho. E, se preciso, ao que parece, dente por dente. Al dente. No ponto.

Confesso. Fiquei ainda mais bem impressionado. E ainda mais animado.

Se há dois meses duvidei entre ele e Abelão, grande figura e treinador que também faria sucesso por aqui, e num primeiro momento pensei mesmo em Mano Menezes, entendo que o Palmeiras com Roger pode ser na prática tudo que ele sabe na teoria.