Sampaio confia no bi da América e vê Felipão motivado em volta ao Palmeiras

Foto: Agência Estado

Quando se fala em Sociedade Esportiva Palmeiras e Luiz Felipe Scolari, não tem como não lembrar de César Sampaio. O volante e capitão alviverde na conquista da América em 1999 conhece o amigo "Felipe" como ninguém.

Sampaio também trabalhou com Felipão na segunda passagem do técnico pelo Palmeiras em 2012, mas já como Gerente de Futebol.

O Nosso Palestra bateu um papo exclusivo com César Sampaio para falar sobre a chegada de Scolari ao Palmeiras. O hoje comentarista da Espn Brasil, falou sobre a expectativa de ver o trabalho do pentacampeão, e disse acreditar no bicampeonato da América.

Confira o bate-papo:

NP: Você que trabalhou com o Felipão nas duas passagens dele no Palmeiras, vê com bons olhos a chegada dele? Acha que ele vem motivado?

Sampaio: Acho que ele vem sim, ele estava com uma proposta muito boa para assumir a seleção da Coréia do Sul, mas por toda história que possui no Palmeiras, ainda que pese a sua última passagem por aqui e pela seleção brasileira. Acho que o Palmeiras estava precisando de alguém com esse perfil, alguém mais experiente. Eu particularmente sou contra interromper um trabalho na metade (Roger), mas via ele muito pressionado politicamente e sofrendo demais com as críticas da torcida. Via que ele estava intranquilo no banco muitas vezes, perdendo o controle emocional e a equipe cometendo sempre os mesmos erros. Então mesmo sendo contra a demissão acho que neste cenário foi importante a troca, e só alguém com o histórico e a bagagem do Felipe pra assumir. Fico feliz que ele vem com o Paulo Turra, um profissional que está atualizado e mais familiarizado com essa nova metodologia do futebol. Claro que o que pesa são os resultados, mas a minha expectativa é boa sim.
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NP: Conhecendo o Felipe, você acredita que o foco principal do Palmeiras agora vai ser mesmo as duas Copas?

Sampaio: Ele é um treinador que trabalha muito bem esse mata-mata. Até pela posição do Palmeiras no Brasileirão, acho que o foco vai ser mesmo as Copas, porém o Palmeiras tem um bom elenco e até na questão da confiança, não me surpreenderia com uma recuperação também no Brasileiro. Se as coisas começarem a dar certo logo de cara e esse início for bom, o astral do time muda. Acho que o Palmeiras tem peças de reposição para conseguir ir bem no Brasileiro e nas Copas também.

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Sampaio foi um dos grandes destaques do Brasil na Copa de 1998.

NP: Muita gente fala que hoje é mais importante pra um técnico a gestão do grupo do que a parte tática. O quanto você acha que o Felipão vai agregar nesse aspecto? Uma vez que o Roger foi o 4° técnico que passou por esse elenco, e nada mudou…

Sampaio: O Palmeiras precisava de um pai mesmo, alguém com uma figura mais de segurança, liderança. Algo parecido com o que o Grêmio passou quando o Roger saiu para a entrada do Renato Gaúcho. Alguém que venha chamar a atençao e tirar um pouco do peso dos jogadores. O Felipe traz isso, ele fica como centro das atenções e isso acaba diminuindo um pouco da pressão no elenco. E ele é muito forte internamente, o vestiário dele é muito direto. Os jogadores que não entenderem isso e não abraçarem isso, terão dificuldades e até mesmo vida curta no Palmeiras. Independente de jogar bem ou mal ele prega muito essa entrega e esse envolvimento de todos. A expectativa é que o grupo assimile esse novo líder, ele é um cara que separa muito bem o extra campo do jogo em si. Fora ele é um amigo, mas dentro de campo ele sempre vai exigir o máximo de todo mundo. Eu estou bem feliz. Acho que a figura do Paulo Turra e do Pracidelli também será muito importante. Os dois conhecem muito esse ambiente interno do clube. Elenco e jogadores bons o Palmeiras tem. Se o time não começar a jogar depois dessa mudança aí vai ficar difícil. A torcida só está cobrando pois sabe o que esse time pode render.

NP: Em 99 o Palmeiras também vinha de um momento irregular na temporada e a partir das oitavas da Libertadores o grupo se fechou pro título. Esse elenco já mostrou ter potencial de fazer grandes jogos. O Bi da América é possível?

Sampaio: Acho possível sim. O Palmeiras possui qualidade técnica, peças de reposição, atletas e técnico experientes. Todos os ingredientes necessários para brigar pela Libertadores. A gente sabe que ela é aquela competição que nem sempre o melhor time taticamente e técnicamente vence, e sim o mais organizado. Principalmente jogando fora do Brasil, cada jogo pede uma coisa e uma equipe que consegue se adaptar a isso se sobressai, e o Palmeiras tem isso hoje. Vejo o Flamengo também com uma equipe muito forte mas tem o Cruzeiro pela frente. O Palmeiras ainda vem sofrendo com a perda do título paulista e tem a oportunidade de reencontrar o Corinthians nas quartas, um caminho que o Felipão percorreu muito bem em 99 e 2000.

NP: Muita gente fala que ele está ultrapassado, mas ele ganhou tudo na China né? Essa desconfiança e até descrédito de muitos também é um combustível a mais pra ele?

Sampaio: Eu entendo que o Paulo Turra tem um papel importante nessa volta do Felipe ao Brasil. Essa nova metodologia e alguns conceitos do futebol moderno. Eu vejo a maneira do Felipão jogar muito mais parecida com a do Cuca do que com a do Roger. Mas acho que o método de jogo do Felipe é mais fácil do elenco assimilar. Não digo que é um modelo antigo, uma vez que a Croácia jogou nessa Copa com uma estratégia muito parecida com a que ele gosta. Exceto por esse jogador de beirada. Dificilmente ele vai jogar com dois pontas agudos. Ele deve atuar com um ponta e algum outro meia por fora.

NP: Pra você, o que vai mudar no estilo do jogo do Palmeiras com o Felipão?

Sampaio: Muda um pouco em relação ao espetáculo, o Palmeiras vai ser um time mais pragmático, neutralizando as forças do adversário e jogando de uma maneira mais reativa. Ele mesmo gosta de afirmar que você só vai em show três vezes por ano, ele faz essa analogia em relação as goleadas. Então o Palmeiras dificilmente vai brilhar, vai ganhar de 5 a 0, mas vai ser um time montado para neutralizar o adversário e atacar as suas fraquezas. Mas tudo isso é muito secundário. Temos que esperar pelos treinamentos, ver como o grupo reage, e claro os resultados. O histórico e o passado abrem as portas, mas o que segura o treinador é a regularidade e os bons resultados.