Treinador da Seleção Brasileira de Futsal explica importância de Abel no Brasil: ‘Traz reflexões’
Marquinhos Xavier elogiou treinador do Palmeiras e falou sobre o bom trabalho do português no país
Desde que chegou no Brasil, Abel Ferreira colecionou títulos e vitórias com o Palmeiras. Conquistando troféus como o da Libertadores, o português também foi alvo de inúmeras críticas por parte de treinadores e jornalistas brasileiros. No entanto, nem todos vêem o palestrino como um problema.
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Marquinhos Xavier, comandante da Seleção Brasileira de Futsal, por sua vez, vê a presença do palmeirense no Brasil como algo benéfico ao esporte nacional. Em conversa com o NOSSO PALESTRA, ele explicou a admiração que tem pelo profissional lusitano e também falou sobre como o futsal por influenciar no desenvolvimento do jogador de futebol.
Admiração por Abel Ferreira
Marquinhos nunca encontrou Abel pessoalmente, mas acompanha o trabalho do treinador à distância. Assistindo às coletivas com frequência e lendo o livro publicado pela comissão técnica alviverde, o comandante da Seleção Brasileira de Futsal explicou ao NP que vê a presença do português no brasil como algo benéfico para uma melhora no entendimento do jogo.
– Eu tenho acompanhado muito menos do que eu gostaria, mas tenho me concentrado muito nas entrevistas que o Abel tem dado e na forma que ele tem administrado o Palmeiras nesse tempo todo. Acho que isso sempre é um motivo de observação por parte dos treinadores, você permanecer tanto tempo em um clube, ainda mais no Brasil, onde a cultura é muito ‘resultadista’, você precisa administrar muitas questões além do jogo. O desgaste é natural, com imprensa, torcedor.
O desgaste, inclusive, com os pares. Tenho percebido bastante essa questão com outros treinadores brasileiros, que são agressivos em suas declarações. Mas tenho percebido uma sensibilidade muito grande, uma inteligência muito grande dele (Abel) em administrar tudo isso. Em que pese os resultados, sejam sempre um fator importante para o treinador, acho que um dos grandes motivos para que eu avalie como positiva a participação dele aqui no Brasil é a forma com que os treinadores portugueses conseguem fundamentar melhor os resultados, as atuações.
Acho que a elaboração de uma boa resposta, de uma boa explicação do que acontece em campo é fundamental. Eu sinto que, apesar de muito jovem, ele traz isso da escola portuguesa, que é uma escola muito voltada ao estudo, e isso é muito benéfico. Isso trouxe reflexões para nós brasileiros de podermos analisar o jogo de uma ótima diferente do resultado, nem sempre o resultado acompanha desempenho. Infelizmente, nunca tive a oportunidade de estar com ele pessoalmente, mas quem sabe eu possa encontrá-lo.
Importância do futsal no futebol
Em entrevista ao Roda Viva, Abel explicou que estava lendo um livro escrito por João Almeida e Bruno Travasso denominado “A tomada de decisão no Futsal”. Questionado sobre a importância dos trabalhos cognitivos na modalidade, Marquinhos explicou que o espaço reduzido com o qual os atletas de futsal precisam trabalhar faz com que eles consigam optar pelas melhores opções quando fazem a transição para o futebol.
– Eu acompanhei essa entrevista e fiquei muito feliz por ele ter lembrado, até porque é um conterrâneo dele que se dedica bastante à ciência do esporte, é um estudioso, tem uma vivência acadêmica e hoje faz parte da Seleção Portuguesa de Futsal. Isso foi legal, porque trouxe para o futsal uma luz importante.
É um tema sempre muito sensível, tomada de decisão é um tema muito significativo, porque a gente acaba trabalhando isso o tempo todo para que os atletas possam fazer escolhas melhores mas isso também vai ao encontro do que ele entende sobre o jogo. E essa mistura de culturas, eu particularmente tenho uma relação muito boa com os portugueses, ministro muitas aulas em universidades e cursos de formação em Portugal, e acho que quando a gente ‘laça’ essas culturas, a gente acaba aprendendo mais sobre o que a gente faz.
Acho importante trocar as informações, essa proximidade da ciência, da vida acadêmica com a questão prática te traz boas respostas, e isso converge para uma coisa só: melhorar a modalidade, o esporte, de maneira geral. Sair um pouco do senso comum, das pessoas avaliarem o jogo só num viés de resultado, mas mais humano. Acho que isso tem contribuído, quanto mais pudermos misturar as culturas melhor.
– Recentemente, eu terminei um estudo, ainda continuo ele no doutorado, mas no mestrado eu escrevi um livro que chama “Transição de atletas do futsal para o futebol”. É um estudo descritivo no qual a gente investiga a importância do futsal na vida dos atletas que fizeram esse processo, e muitos deles relatam tudo isso, a questão da tomada de decisão, de poder decidir em tempo e espaço curto. Acho que essa relação é muito próxima.
Creio que o futsal tem muitos conceitos que ajudam um jogador de futebol. Claro que existe a necessidade dos treinadores de futsal entenderem de futebol para saberem no que podem ajudar, mas acho que essa cooperação, esse trabalho gratuito é fundamental para formar melhor, até porque hoje os espaços estão cada vez mais reduzidos no campo de futebol. Aquele espaço em que tudo acontece, a incidência de gols, ações ofensivas, está cada vez mais poluído. E nós, no futsal, entendemos muito de espaço reduzido.
Então, acredito muito que falar de tomada de decisão, pensar no aspecto da tática individual é fundamental. Se o atleta dominar essas questões, ele pode jogar melhor coletivamente. A importância, desde a formação, até o desenvolvimento do atleta nas categorias que antecedem a categoria principal, estão presentes. Isso não significa que o futsal só tem esse objetivo, de formar atletas para o futebol, porque ele é uma modalidade própria, uma modalidade que forma para o nosso esporte, mas ele contribui de forma significativa, principalmente na inteligência para o atleta jogar.
Livro escrito por Abel Ferreira
No início de 2022, Abel Ferreira lançou o livro ‘Cabeça fria, coração quente’. Na obra, o palmeirense relata sua metodologia de trabalho, além de momentos importantes de sua passagem no Verdão até o momento.
O trabalho é algo novo no Brasil, uma vez que os treinadores brasileiros não têm o costume de escrever sobre suas convicções e ideologias. Para Marquinhos, que tem diferentes livros, este é um passo fundamental para que o conhecimento seja difundido no Brasil.
– De fato, quando eu vi o livro do Abel sendo publicado, fiquei muito surpreso, porque foi em uma velocidade muito rápida. Isso trouxe uma reflexão de que é possível fazer. Claro que é um livro que tem muito da biografia dele, de como ele pensa o jogo, de como ele pensa o futebol, mas é um livro importante, que tem um peso hoje na literatura do futebol brasileiro. Eu gosto muito, estou terminando, inclusive, meu quinto livro, devo lançar agora no mês de outubro, início de novembro. É meu quinto livro e foi um exercício interessante.
Eu sempre fui muito questionador de por que os treinadores não escrevem? Por que não publicam o que eles fazem? Talvez, alguns porque não sabem traduzir para a escrita, que é um exercício muito desafiador. A gente sabe o que faz, da maneira que faz, mas escrever é outra forma de conhecimento, mas é uma habilidade que se pode treinar. Então, você incentivar os treinadores a escrever pode aportar para os mais jovens um caminho mais seguro.
Acho importante e valorizo muito a iniciativa dele de ter deixado um pequeno legado aqui, não só pelas conquistas com o Palmeiras, mas também um legado científico, técnico, através desta escrita. Então, que a gente possa seguir se motivando a produzir mais e, com isso, alcançar mais pessoas.
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