Um sono só. Quase pesadelo

Neste mesmo espaço, horas atrás, dizíamos que essa noite era daquelas que a vovó dizia ser necessário ter muita cautela e enorme respeito pelo desafio. Entrar como se fosse a última vez e lutar como a primeira. Era noite pra ser ainda mais, pra fazer melhor e não ceder a essa tranquilidade tão problemática. “Viraremos a pauta do próximo plantão”. Previmos! 

Não sei vocês, caros, mas eu, na incumbência profissional de fazer esse pós sofrimento e na tarefa inconsciente do coração de torcer, travei uma longuíssima batalha contra a implacável atração das pálpebras. MAS QUE SONO, Palmeiras. Que primeiro tempo triste fizemos nós e o esforçado América Mineiro. 

Triste em termos. Ótimo para os mineiros que me tiraram do coma de sonhos para ver uma jogada que representou muitíssimo bem o padrão do jogo: coisa de treino. Em linha de passe, Carlinhos recebeu livre na área e rolou para Serginho anotar o tento mineiro. Todos parados esperando a marcação de impedimento que não houve. Diogo Barbosa, como eu, dormiu e deu condições ao americano. 

O segundo tempo, quase tempestade, começou em outro ritmo. Ainda mal organizado e com gestos técnicos horrorosos, mas com grande disposição. Guerra substituiu Deyverson, mas o placar não queria se mexer. Hyoran foi pro jogo na vaga do ineficaz Lucas Lima e, ainda que não com influência dele, logo viu sair o gol do sossego, mas não muito porque quem dorme, a onda e o coelho levam. 

Foi com Willian, aos 18, que o Palmeiras empatou a peleja. Bruno Henrique fez bonita inversão pra Marcos Rocha que emendou passe de cabeça até a cabeça do artilheiro de bigodes para o cantinho direito de João Ricardo. Um coice de cabeça daquele que é, de fato e de direito, o animal moderno do maior do país. 

A pauta do plantão de avizinhou ainda mais com a sensação de paz que tomou conta do Allianz Parque, mais uma vez. Foram vinte e cinco minutos e alguns restilhos de tempo de tricotar a bola e ensonar a torcida que já vinha letargicamente tensa. Amainou-se o ímpeto americano, aquietou-se o nervosismo dos verdinhos, aumentou o meu sono, colocou sob a coberta e confortável na cama a classificação às quartas. 

Uma boa noite de avanço e de muito, mas de muito sono para um Palmeiras que insiste em querer trocar sonhos por pesadelos. Luz abaixo. Quase nada. Apagou. 

Reascende, Palmeiras. Reascende!