Campeão e incontestavelmente melhor time da Copa São Paulo, o Palmeiras comandado por Paulo Victor Gomes deixou, querendo ou não, uma marca na história da competição, seja pelo título inédito ou pelos diversos jogadores revelados ao público.
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O técnico PV, como é conhecido, já tinha passagem importante por categorias inferiores da formação do Verdão até 2017, trabalhando com jogadores como Garcia, Fabinho e Gabriel Silva. Todavia, sua passagem pela Seleção Brasileira teve notável importância para aprimorar suas metodologias e para ganhar experiência, visto que, entre outros títulos, participou da conquista da medalha de ouro em Tóquio-2020.
Sua volta em outubro, portanto, serviu para dar ânimo e competitividade a um time conhecido pelo vasto talento, mas que vinha de eliminações traumáticas nos últimos tempos. Ele demonstrou, em suas preleções, que o talento não basta, se não houver senso coletivo, caráter e trabalho. Dito isso, como o jovem treinador montou o time campeão? Ele se inspirou no time de Abel Ferreira? São perguntas que tentaremos responder ao longo do texto.
Para começar, é preciso entender quais eram as principais deficiências do time que, até então, era comandado por Wesley Carvalho. Apesar de um notável trabalho nos últimos anos, o Palmeiras de Wesley em 2021 tinha evidentes problemas: falta de eficiência na frente do gol, dificuldade na recuperação de bola e desorganizada transição defensiva. Além, é claro, de um aspecto psicológico frágil, por também contar com atletas mais novos que a média da categoria.
Sem chorar o leite derramado, PV utilizou o Paulistão para dar sequência a alguns jogadores que precisavam de confiança e que seriam, mais tarde, as bases do time campeão inédito. Nesse sentido, cresceram Vanderlan, a dupla de volantes (Fabinho e Bicalho) e também Giovani, recém chegado do Sub-17. Também voltou a utilizar Gabriel Silva em uma posição mais recuada, com liberdade, pensando em dar espaço para um outro atacante. Com isso, além de confiança, conseguiu mesclar talento e competitividade para executar seu plano para cada partida.
Concretizando a “linha atacante de raça”, como pôde ser visto, seu time se notabilizou, sobretudo nas fases finais da Copinha, por agredir bastante o adversário, a partir de uma pressão no campo de ataque. Dessa forma, tiveram papel notável Pedro Bicalho, Jhonatan e Giovani, que saltavam para pressionar os zagueiros e volantes dos rivais durante a saída de bola. Ao recuperar a bola, a “blitzkrieg verde” rapidamente já acelerava em direção ao gol e buscava apunhalar o adversário já nos minutos iniciais de jogo.
Além disso, o time campeão também encheu os olhos a partir de suas trocas de passes no campo de ataque, em que se nota certa similaridade com o sistema tático do Brasil nas Olimpíadas. Com atletas de qualidade desde o setor defensivo, o time pôde construir através de passes objetivos, a partir da saída de bola com três jogadores, sendo eles os dois zagueiros e Garcia ou um dos volantes. Nisso, cabe destaque para Fabinho, que ditava o ritmo do jogo, e mais a frente para a dupla Endrick e Gabriel Silva, que se procurava o tempo todo para tabelar. Todavia, também não podemos esquecer de Garcia, importante em seus lançamentos e para Giovani, que desequilibrava a partir de sua perna esquerda, seja em suas conduções por dentro ou arrancadas pelo lado.
O vídeo abaixo mostra um pouco do repertório da equipe de PV para buscar o gol em diferentes tipos de jogadas, incluindo ações de bola parada, que mostram que Paulo Victor vai se tornando um treinador com diferentes opções para agredir o adversário em sua estratégia:
Um time vencedor, porém, não se faz apenas pelo que demonstra com a bola no pé. Se nas eliminações para Inter ou Avaí foi visto um apagão no sistema defensivo, a comissão de PV soube “ligar a chave” e cobrar concentração da equipe na maior parte do tempo. Sabia, assim, se portar como um time propositivo ou aquele que “sabia sofrer”, principalmente em jogos mais difíceis, como contra o Inter e São Paulo, dois dos melhores times da competição. Nesse aspecto, a experiência no time profissional de boa parte do time titular foi essencial, de modo que podemos ver um comportamento parecido ao do time de Abel Ferreira em jogos decisivos.
Além da postura, as substituições foram condizentes com o momento do jogo, seja para dar novo gás ao time, com Vitinho, Kevin e Pedro Lima, ou para “fechar a casinha”, com importância para Ian e Lucas Sena. Destaque também aqui para os arqueiros Mateus e Kaique, que mantiveram o nível esperado da Academia de Goleiros, demonstrando segurança e reflexo.
Por isso, apesar de o futebol muitas vezes nos pregar peças, com suas zebras, desta vez é visível que o campeão não venceu à toa. Os pilares do trabalho, tão repetidos por PV, foram “caráter sobre talento, grupo sobre indivíduo e esforço inegociável” e apresentaram ao torcedor uma identidade de futebol clara, que vem sendo preparada geração após geração, e que foi grandiosamente embalada pela torcida. Sendo assim, a conquista que “lavou a alma” do torcedor e do clube tem participação de diversos profissionais, que tanto contribuíram, cada um em seu setor. E, diferentemente daquele futebol empolgante de 96, que parece ter sido apenas o sonho de uma noite de verão, a tendência é que o sonho de formar atletas em casa vencendo prossiga, como nunca antes tinha havido. Para que os frutos verdes, porém maduros, continuem a ser colhidos, sem que esqueçam de ostentar sempre a fibra daqueles que representam.
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