Opinião

André Galassi: ‘Racismo não se combate com notas de repúdio’

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Publicação do atacante Gabriel Veron em 2020 se posicionando contra o racismo. (Divulgação / Instagram)
Publicação do atacante Gabriel Veron em 2020 se posicionando contra o racismo. (Divulgação / Instagram)

Um dia após o caso de racismo na partida entre Corinthians e Boca Juniors, o episódio se repetiu, na vitória do Palmeiras sobre o Emelec, no Equador, na última quarta-feira (27). Equatorianos apontaram para a torcida do Palmeiras e os chamaram de ‘macacos’. Já nesta quinta-feira (28) foi a vez da torcida da Católica, do Chile, repetir o crime diante do Flamengo.

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Nas redes sociais da CONMEMBOL, entidade responsável por gerir a competição, e no perfil oficial da Libertadores nenhuma publicação ou qualquer menção aos ocorridos foi feito enquanto a bola rolava nos gramados e os crimes aconteciam nas arquibancadas. Enquanto isso, a página era preenchia nos últimos dias com vídeos de gols, escalações e pedaços de antigas reportagens. Foi somente na sexta-feira (29), que a instituição resolveu se pronunciar, publicando uma rasa postagem falando que não compactua com o ocorrido. No curto texto, afirmou que vai promover mudanças em seu regulamento para ter punições mais duras, mas não entrou em detalhes de como fazer.

Nos clubes, apenas o protocolar, ou muitas vezes nem o básico. Flamengo, Palmeiras e o Corinthians divulgaram somente uma genérica nota de repudio. Enquanto isso, o torcedor alvinegro que denunciou o racismo nas arquibancadas da Neo Química Arena disse, em entrevista a Record, que não teve o amparo o clube na situação. Ou seja, a indignação publica fica em notas de repudio e não nas ações.

Ementes, as próprias entidades nacionais dão amparo aos torcedores que comentem crimes fora de seus respectivos países. Segundo informações do Jornal Lance! dos jornalistas Fábio Lázaro e Rafael Oliva – com quem tive prazer de trabalhar ao lado durante um ano – a Embaixada da Argentina, alegando questões humanitárias e de amparo a um cidadão fora de seu país, pagou a fiança de R$ 3 mil e liberou Leonardo Pozzo, que sequer chegou a ser detido após ser racista na partida entre Corinthians e Boca Juniors. Nada arrependido, com um colega, o racista debochou de toda a situação no Instagram.

Está claro que o exponencial de casos se dá principalmente pela impunidade. Alguém se lembra qual medida a CONMEMBOL ou os próprios clubes tomaram contra o crime nos últimos anos? Se pronunciar nas redes sociais com nota de repudio não bastam, é necessário ações e políticas rigorosas contra a violência. Coisas que passam longe de acontecer e não parecem que deva mudar no futuro próximo.

Se antes o racismo era praticado geralmente por outros latinos contra os brasileiros, na última década os próprios tupiniquins aumentaram a prática do crime contra os próprios conterrâneos. Recentemente, em outubro do último ano, Danilo e Patrick de Paula foram os alvos do racismo. Para piorar a situação, o comentário foi feito por um jornalista, uma das profissões que mais deveriam bater contra a criminalidade.

No Brasil, o fenômeno negativo voltou a crescer em todas as esferas da sociedade em 2018. Segundo dados do ISP/RJ em 2021, o número de injurias subiu em mais de 100% no último quatérnio, principalmente nos anos de 2019 e 2020.

No esporte, o ambiente também se torna cada vez mais violento nos últimos anos. Um relatório produzido pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol já durante a pandemia, mostrou um aumento significativo no número dos casos de crimes raciais no último ano de estádios com torcida antes da Covid-19. O estudo apontou um crescimento de 52,27% de casos de injuria no futebol. Ao todo, 67 denúncias foram feitas no Brasil e 15 ocorreram no exterior. Dos 82 casos de discriminação racial no futebol, 38 foram direcionados aos atletas e oito fazem parte da torcida. Mas apesar do elevado número de casos, só 10% das ocorrências receberam alguma punição.

Os clubes, quando não se posicionam ou apenas escrevem algumas poucas linhas vazias, viram coniventes com o crime e com a situação. Em um país majoritariamente negro, é impossível tratar com tanta passividade a impunidade pelo racismo. Embora quem sofra o racismo na pele seja negro, as principais cadeiras – onde se toma as decisões contra a injuria – são ocupados por brancos. De acordo com levantamento do ‘ge’, nenhum dos 40 presidentes dos clubes das Séries A e B foi considerado negro, em análise foi feita através da chamada heteroclassificação, método no qual fotos dos mandatários foram submetidas à avaliação dos pesquisadores.

Apenas notas de repúdio não vão mudar o racismo no futebol, especialmente no âmbito das competições com rivalidades latino-americanas. É preciso, inicialmente, a união dos clubes brasileiros para mudar essa violenta realidade. Não existe rivalidade quando o assunto é violência e discriminação. Após a junção coletiva, é necessário radicalizar atitudes e ações até que a CONMEMBOL realmente punir severamente esse tipo de atitude.

(A opinião do jornalista não necessariamente reflete a opinião de todos os jornalistas e integrantes do Nosso Palestra)

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