“Não consigo ficar chateado com ninguém” disse o português no centro do “Roda Viva”. Foi a última frase dele no programa depois de ser bem perguntado e muito bem respondido por quase duas horas que passaram rápido como o gol de Veiga no Centenário. Mas que poderiam ser longas e tortuosas como o jogo de volta contra o River. Por ele ser personagem que incita tanta inveja quanto admiração. Tanta crítica quanto deslumbramento.
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Desde o início se viu o Abel que se sabe: estudioso e intenso. Lembrando entrevistas célebres com esportistas no programa. E também o Abel que nem sempre acerta – mas que sempre ressalta isso: hesitou ao falar do Galo de 2021 e o chamou de “Americo” Mineiro. Mas reconheceu o êxito de o eliminar na Libertadores também por “sorte”.
Algo que vencedores como ele têm. E os ainda maiores e melhores são os que sabem disso. Deixou claro que não gosta de um esporte apenas com heróis (como ele) e vilões (como Andreas Pereira, cito). “Já desenhei jogadas que deram derrotas”
Ele diz que, como treinador, é responsável por 30% do que acontece em campo – o que eu acho muito. “Sou o que sou no Brasil graças aos jogadores. Minha família aqui são eles. Construímos uma verdadeira equipa. Mais do que tática e técnica, são as relações entre nós [que os levaram e ainda levam adiante].
Relações que o colocam cada vez mais dentro do Palmeiras e do Brasil. Em não poucos oportunidades ele falou no futebol brasileiro na primeira pessoa do plural. “Nós”. Ele também. E não é plural de modéstia. É de pertencimento.
Ele quer melhorar o calendário – sem extinguir estaduais (“se tivermos mais tempo para preparar os jogos eles serão melhores”). Quer melhorar o espetáculo com menos partidas (“o produto mais escasso vale mais…). Quer melhorar gramados. O jogo. Quer melhorar o futebol mudando as pessoas dele. A mentalidade da rivalidade levada para fora do campo ele quer conter. Quer uma liga que não precisa de gente de fora – como ele. “O brasileiro sabe o que fazer com a bola. Mas precisa saber mais o que fazer sem ela”. Ou até sabe. Mas precisa de um Abel ou vários como ele para botar na cabeça.
Abel admite os excessos no banco de reservas. A mulher dele o cobra. “Eu às vezes tenho vergonha daquilo [que fez]. Eu preciso melhorar isso”.
E como. Mas não muito mais. A identidade dele bate com a do palmeirense. No que há de Ademir da Guia e no que há de Darinta. Até do periquito ele fala. Mas com imenso espírito de porco. Ele compreende até as cornetas do aporcalipse. “Tudo se encaixou comigo. Até os que pintam os muros [do clube].
É isso. Abel é corneta de Penafiel. Amendoim português. E é um cara que vale a perna torcer por ele – mais até do que pelo jeito do time dele. “Futebol é muito mais do que se vê dentro das quatro linhas”.
Sempre concordei. É serão elas que definirão o futuro de Abel. E do clube, também.
“Falei pra minha esposa. Só fico [no Palmeiras] se tu vieres. Se não, eu não fico. (…). Não fico mais sem a minha família”.
Mas, se precisar, até lá, já sabe para quem ligar quando quiser comer a pizza de domingo.
A roda de samba não acabou.
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