JG Falcade: ‘A morte, uma manchete e um Dérbi’

Feliz Carnaval, palmeirense. Bebam!

Sabe porque a morte é legal? Porque ela rende. Todo mundo menciona, muitos choram, outros refazem antigos laços, uma comoção incrível, falsas crises de desespero e um sujeito que vai virar um monte de ossos e bichos. É incrível como um pequeno fato biológico e inevitável remexe com o ecossistema e oferece infinitas possibilidades. A morte é fascinante.

Uma manchete é uma notícia importante, uma frase de destaque, um escândalo, uma maluquice, um dado de dramaticidade que faz vender um texto ordinário. É assim que as manchetes são pensadas. Elas geralmente são melhores quando são sobre coisas ruins, sobre aquilo que as pessoas querem fingir que ignoram, mas que sempre tentam saber mais.

Mas e o Dérbi? É a morte na manchete.

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Tudo no Dérbi é maior. O jeito como o time pior encara o desafio. O clima hostil e comoventemente agonizante que tentam impôr ao ambiente, os torcedores. Criam uma novela para que os seus representantes se envaideçam de uma motivação extra – afinal, quem poderia estar empolgado em trabalhar em suas funções de 384 salários mínimos por mês, não é? É todo um enredo que faz virar manchete.

Nos Dérbis, inclusive, heróis viram vilões e vilões viram heróis (eu uso acento em herói porque é mais legal assim!). O atacante que pediam fora do time mete logo dois gols. O treinador alquimista mete os pés pelas mãos, erra da dose, faz uma bobagem de cartoon e o time acaba se dando mal por conta dele. Em uma noite, os personagens morrem e renascem em novos papéis. É incrível estar bêbado o suficiente para olhar deste prisma – como é meu caso.

Abel fez um montão de merda, depois de ter movido suas peças no tabuleiro de xadrez e propor um xeque-mate a Lázaro. Dois atacantes, Dudu e Veiga recuados, a ideia foi magnífica e surtiu efeito. Morto, o Corinthians procurava uma manchete para se apegar. Abel decidiu colocar seus piores bonecos pra jogo e optou pelo suicídio em campo. Veja só a cagada que virou.. Os caras estamparam os jornais com a “superação” e o Palmeiras sai de campo tendo “podido ganhar”.

Nenhuma mentira, inclusive, mas abordagens das mais variadas para um jogo que poderia ser muito mais simples. Inconsistente, o futebol é cheio de mortes e manchetes, de novidades que vendem e vencem, que empolgam e reviram os padrões. Tudo muda na velocidade de um Jaílson dando três pulinhos com a perna direita para sustentar um placar de Dérbi.

Em Itaquera, a quinta-feira acabou com mortos, manchetes e nenhum vencedor. Eu acabei com mais um copo de Gin nas mãos.

Feliz Carnaval, palmeirense. Bebam!
No mata-mata, a gente mata e mancheta a glória.

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