Feliz 3 anos de Rony, Palmeiras

Rony é feio. Rony chuta mal. Rony se veste mal. Ronielson? Que nome é esse? Ele é bagre

Uma sensação única. Acho que todas as crianças, quando querem jogar futebol, almejam chegar num clube grande. Eu não seria diferente em sonhar alto, em almejar coisas grandes. Meu sonho era jogar Série A, e hoje eu estou tendo esse privilégio de estar em clube grande. Uma felicidade imensa, uma sensação única de estar agora num clube como o Palmeiras. Eu me sinto muito honrado, muito feliz. Qualquer jogador queria estar no meu lugar, queria estar no Palmeiras, um dos gigantes do cenário brasileiro. É o sonho de cada criança.

Rony, dia 28/02/2020, em sua apresentação no Palmeiras

Essa declaração poderia ser de 2023, de um jogador consagrado, que deu certo, mas que sempre faz questão de reforçar seu carinho e seu orgulho em estar no Palmeiras. Talvez Rony seja um exemplo não tão comum de amor declarado e reiterado ao longo do tempo. Seu sentimento parece ser imune aos sucessos e quase fracassos. É alguém que faz questão de se declarar – verbal, física e moralmente, todos os dias.

No final de 2022, escrevemos Arthur e eu, JG, que Rony nos comovia em muitos sentidos. É uma história que serve como exemplo para muito além do esporte. Não somos, nem ele, nem nós, abençoados com grande talento. Não somos privilegiados com alguma capacidade especial, mas ele mostrou que é possível vencer à base de insistência. Rony passou fome, jogava pra sobreviver e tinha o mundo inteirinho como obstáculo. Eu só tinha problemas com meu vídeo game.

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Rony tem poucos anos de Palmeiras, mas já fez e viveu coisas que fazem o período valer por uma vida. Estamos e somos marcados por sua existência, por sua passagem com a camisa do nosso time. Usando a 7, a 11 e a 10, desfazendo a maldição de uma camisa santificada e que era carente de dono há pelo menos uma década. Rony foi piada desde que pisou na Academia de Futebol.

Rony é feio. Rony chuta mal. Rony se veste mal. Ronielson? Que nome é esse? Ele é bagre. Como pode usar a 7 do Dudu? Dar a 10 pra ele é uma ofensa. Não podemos ter um centroavante como Rony. Ele nunca jogou em paz. Nem campeão, nem bicampeão. Nem mesmo sendo o melhor em campo. O caminho pra Rony é sempre mais tortuoso e desafiador. Ele parecia precisar provar sua trajetória a cada vez que pisava em campo. Reafirmando seu valor. Seu custo, seu salário, sua não-venda.

Rony demorou 21 jogos para chegar ao seu primeiro gol. Naquela noite, uma chuva de memes tomou conta da internet, e eu poderia provar, enumerando aqui cada um deles, mas seria ilustrar um passado que não merece mais nossa atenção. Não mais, não nesse momento, não depois de ver a remontada de um sujeito que saiu da zombaria para a idolatria. Com seu jeito tão peculiar, fez da migalha o caminho para ser sucesso, hit, referência.

O jogador Rony, da SE Palmeiras, comemora seu gol contra a equipe do Red Bull Bragantino, durante partida válida pela décima rodada, do Campeonato Paulista, Série A1, na arena Allianz Parque. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Eu não julgaria Rony se ele tivesse falado verdades quando foi criticado por má-vontade. Mas ele é muito melhor que eu – que já falei sobre sua pouca química com a bola. Rony nunca levantou a voz além das quatro linhas. Nela, é um incansável. Fora, só um trabalhador silencioso. No banco, no time, na ponta, na lateral, de costas, em velocidade, no peixinho ou no gol de bicicleta. Ele seguia seu próprio roteiro.

Nem Al Pacino teria histórias tao gentis pra Rony do que a vida ofereceu. Entre tanta entrega, que eu mesmo penso ser além do humano, além do razoável – ele corre mais do que um ser humano deveria pensar em correr, ele conquistou. Além de títulos, a simpatia da mais desconfiada torcida do mundo. Hoje, o palmeirense torce e comemora a bicicleta de Rony com muito mais amor do que o próprio avanço da equipe. Isso é raríssimo. É poesia e romance.

Rony comemora o gol marcado contra o Fluminense no Maracanã (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Rony quebrou a vidraça. Sua entrega está premiada. Ele venceu as piadas, venceu o preço e venceu a própria missão impossível que criou pra si, como um fantasma. Rony se desafiou ao impossível e entregou o resultado na gaveta do Gol Sul na noite em que superou marcas de Pelé e de Zico. Na competição que deu a ele um sobrenome e uma mística absolutamente histórica e eterna.

Rústico não é codinome de super-herói, nem identidade secreta. Até porque, Rony nunca se escondeu. Superou. Deu a cara a tapa mesmo quando a mão do outro lado parecia muito mais forte do que ele parecia aguentar. Não precisou de poção mágica, nem de poderes. Passou por cima com o que tinha de fé. Nem todos que tentaram na mesma jornada conseguiram o mesmo. Mas Rony é o motivo de muitos não pararem de tentar.

Feliz 3 anos de Rony, Palmeiras.