O Paradoxo
Última semana de janeiro. Ansioso como nunca estive. Vestibular? Dormi que nem um bebê na noite anterior. Final de libertadores? Quase não consegui fechar os olhos. Tudo valeu a pena.
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Foi uma semana extremamente trabalhosa e de um cansaço sem igual, mesmo estando de férias da faculdade. Tudo valeu a pena.
Chegou aquele dia 30. 10° lá fora e eu com calor. Tremendo, mas não de frio. Respiração ofegante e coração a mil. Tudo valeu a pena.
Mais de 90’ de pé, cantando junto com a Mancha que fazia festa no meu celular. Rony recebeu do Danilo eu já não sei se acreditava. Cruzou pro Breno e eu tive certeza que acreditava. Bola entrou e festejei como nunca. Gritei na janela, fiquei sem voz. Quis chorar e não consegui. Escrevi um texto levemente emocionado. Tudo valeu a pena.
A felicidade foi algo sem precedentes. Só de lembrar, abro um sorriso no rosto e meu dia, que pode estar ruim, melhora, ao menos levemente. Como já disse, naquele texto lá escrito de madrugada, nunca fui tão feliz. Não sei se um dia serei tão feliz. Tudo valeu a pena.
O tempo, porém, passou. E com isso o sentimento do momento mudou. Depois de uma conquista tão grande, como me irritar com o desempenho abaixo no Mundial? Impossível! Como criticar o time em empates com times lá de baixo da tabela, ou até mesmo com o São Paulo? Não dá! Tudo valeu a pena.
Mas esse novo sentimento deixou de ser a felicidade. Tornou-se a indiferença. A pior coisa que uma pessoa pode sentir. Ou não sentir. Não tô feliz. Não tô triste. Eu não tô é ligando muito pro que acontece. Tudo valeu a pena?
Isso somado à pandemia. Não posso sair de casa. Portugal tá mal. E eu tenho que fazer minha parte, ficar em casa. Não gosto, mas é necessário. Mas é ruim. Tudo valeu a pena?
Já faz um tempo que não subo uma coluna, não sei se essa será a que vai “marcar minha volta”, mas por que? Porque eu não sinto. Como escrever algo bom sem sentir? Eu não sei. Tudo valeu a pena?
Pra sair do bloqueio escrevi um sobre o bloqueio. Coisa de louco (ou de escritor?). Só um JG leu. Só um JG lerá. E só ele pra me fazer abraçar o sentimento, ou a falta dele, e escrever. Tudo valeu a pena?
Valeu! Muito. Repetiria milhões e milhões de vezes se pudesse. A indiferença que veio depois pouco me importa se comparada com a alegria de estar vivo no dia 30/01/2021.
Sentir todos precisamos. E eu senti tudo que tinha pra sentir em muito tempo naquele dia. Eventualmente volta.
Mas enquanto não chega, fico aqui, nesse paradoxo verde que muito confunde minha cabeça.
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