Às vésperas do Dérbi, Moisés relembra quando deixou Corinthians ‘nas cordas’
Em entrevista exclusiva ao NOSSO PALESTRA, ex-jogador do Verdão falou sobre a sensação de vencer rival
O volante Moisés, ex-Palmeiras e hoje no Shandong Taishan, da China, concedeu entrevista exclusiva ao NOSSO PALESTRA às vésperas do clássico contra o Corinthians pelo Paulistão, que acontece nesta quinta-feira (16). Ele relembrou seus gols e as vitórias contra o rival, uma de suas principais vítimas com a camisa palestrina.
– O Dérbi é um jogo especial, né? Eu tive a felicidade de disputar alguns e foi o time que eu mais fiz gols. Poucas pessoas devem ter essa noção, mas foram três. Foram dois em Itaquera e um, em disputa de pênalti, no Allianz. É um jogo muito marcante, né?
Em detalhes, ele deu bastidores da vitória do Verdão em Itaquera durante a campanha do Brasileirão de 2016, quando o clube saiu da fila do campeonato nacional após 22 anos. Àquela altura do torneio, o time comandado por Cuca liderava, mas enfrentava uma difícil sequência contra equipes da parte de cima da tabela.
Moisés relembra que parte da imprensa esportiva considerava o Flamengo, vice-líder, favorito para o título. Sendo assim, acreditavam que seria em meio àquelas rodadas que o time carioca ultrapassaria o Alviverde. A resposta palmeirense veio em campo.
– No segundo turno, lembro que já estavam colocando uma pressão: ‘será que o Palmeiras vai aguentar?’. A torcida estava tensa pelo o que aconteceu em 2009 e muita gente jogando aquele peso em cima da gente. E isso acaba indo para dentro do clube. Por mais que você tente blindar, não tem como esquecer totalmente. Toda imprensa dava que a gente perderia e, com isso, o Flamengo chegaria na gente. Tivemos uma concentração muito grande naquele momento, e o Cuca foi muito inteligente na preleção. Ele fez a preleção normal e, no vestiário, ele mostrou um vídeo de todos os nossos familiares. Lembro que foi nesse jogo que minha filha acabou ficando famosa. Minha esposa gravou ela cantando o hino (risos). Aquilo ali levou a gente a mil. E assim, nós entramos. Deu cinco minutos e fizemos o gol. E nós não demos nenhuma chance, cara. Foi um Dérbi que a gente foi superior do início ao fim. Mostramos uma maturidade de um time campeão – contou ex-jogador do Verdão.
Além de crucial para a conquista do eneacampeonato, a vitória sobre o Corinthians teve um sabor especial por ter sido no estádio rival. De acordo com Moisés, o Palmeiras deixou o rival ‘nas cordas’ dentro da própria casa.
– Não é fácil jogar um Dérbi na casa do adversário e controlar as ações o tempo todo, sem deixar que eles tivessem qualquer reação. E como se fosse uma luta de boxe e você coloca seu adversário nas cordas, batendo… aí você pensa: ‘Esses caras tão sem reação. A hora que a gente quiser, acabamos a luta’. E foi isso que a gente fez naquele jogo. Nós mostramos uma maturidade muito grande naquele jogo. Jogamos sem o Gabriel Jesus, que era uma peça importante, e não fez falta. Mostramos que a gente estava no caminho certo e isso nos deu um gás muito grande. Foi, sem dúvida, a partida mais importante naquela campanha. Claro que todas são importantes – é aquele clichê. Mas aquela deu a confiança para nos pensarmos… esse time tá preparado para ser campeão.
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Assim como para um pugilista, o lado psicológico interfere diretamente em seu desempenho. O ex-meia do Verdão ressalta que, hoje, essa é a parte mais importante para um jogador de futebol e foi que isso que o ajudou em sua carreira.
– A partir do momento que o jogador se torna profissional, ele tem qualidades. Não tem como se tornar um profissional de nível de Série A e ser um jogador ruim. Só que tem muitos jogadores que não tem o mental forte para enfrentar momentos difíceis que o futebol proporciona. Esses momentos estão lá em todos os jogos, todas as semanas. Mesmo com a pressão em cima, você precisa respirar e dar o seu melhor. O principal do jogador de futebol é ter o mental forte. Eu não sou craque, um jogador genial… tenho as minhas qualidades e sei delas. Sou um bom jogador, mas o principal é a frieza que tenho dentro de mim. Saber dos meus pontos fortes e fracos. Manter uma regularidade é uma característica que eu tenho. E isso é manter um equilíbrio para conseguir performar dentro das suas qualidades, independentemente das situações.
Em seguida, ele destaca a abordagem de Abel Ferreira em relação ao tema. Conhecido pelo mantra “cabeça fria e coração quente”, o treinador trata diariamente da parte mental de seus atletas e faz questão de expressar isso em entrevistas.
Mesmo com temperamento agitado do treinador à beira do campo, Moisés considera que isso faz parte do calor do jogo e acredita que, no fundo, ele tem controle sob essas ações.
– Então, acho que esse lema do Abel Ferreira é um dos pontos fortes que ele trouxe para o Palmeiras. Isso tem se estendido para outros clubes, pois estão passando a entender melhor a importância de ter a cabeça fria nos momentos mais importantes. Por mais que você veja um treinador que parece destemperado pelas ações na beira do campo… Às vezes, ele faz aquilo tudo, mas está ciente de tudo o que está fazendo. Pode parecer para o externo que ele perdeu o controle, porém, por tudo o que ele faz… Ele está sob o controle de todas as ações. Ele toma atitudes e consegue, independentemente do nível de jogo, posicionar seu time e falar de forma que todos entendam dentro do campo. O jogador brasileiro vai conseguir crescer cada vez mais e fortalecer o lado mental. Isso eu aprendi na Europa. O europeu não desfoca em momento nenhum. Talento e qualidade, temos de sobra. Nesses outros quesitos, ainda podemos evoluir – pondera o ex-palmeirense.
Com filosofia semelhante à do atual treinador do Palmeiras, o jogador responde se teria uma chance no elenco atual.
– Seria. Eu acredito que jogaria, sim. Dependeria do que o Abel estava pensando para determinado jogo. Às vezes jogava eu e Thiago Santos. Outras vezes, eu e Tchê Tchê. Daria para fazer isso… mudar as peças de vez em quando para montar alguma coisa legal. A camisa 28 tem feito sucesso, né?! O Danilo saiu agora…
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Leia outros trechos da entrevista.
Como surgiu a comemoração do cajado?
– E, quanto a questão do gol, da comemoração… já tinha pensando em fazer aquela comemoração, mas tinha que ser em um momento importante. Aí eu combinei com o Cesar (Greco). Na hora que a gente subiu para o gramado, falei para ele: ‘É hoje’. Se eu fizer o gol, pode preparar a câmera que eu vou lá. Eu acho legal a provocação, mas acho que hoje demanda um pouco mais de cuidado. É uma comemoração que fica marcada, mas em momento nenhum eu desrespeitei o adversário. Não fiz nada que provocasse uma confusão generalizada. E ficou marcado porque eu cravei o cajado. Simbolizando que o Palmeiras, naquele momento, estava cravando o seu resultado, seu momento, sua história… isso foi bem legal.
O que pensa da comemoração de Gabriel Barbosa na Supercopa do Brasil?
– Acho que faz parte. O jogador precisa entender o lado do torcedor e vice-versa. O cara não vai correr lá para o outro lado para comemorar com o seu torcedor. Faz parte do jogo. Acho que precisamos soltar um pouco mais, né? O futebol carece disso… acho que a gente também precisa entender que a linha é muito tênue para passar do limite.
Quais as dificuldades de chegar em um time durante o processo de reestruturação?
– O começo não foi fácil. Eu já esperava isso, é normal. Claro que todos os clubes são importantes, mas nunca tinha jogado em um clube da dimensão do Palmeiras, com essa torcida gigante. Quando eu decidi jogar no Palmeiras, lembro que a torcida esperava muito o Everton Ribeiro, Diego Ribas… eram jogadores que a torcida pedia naquele momento. E, de repente, foi anunciado o Moisés e aquilo foi meio que um choque. A torcida já cobrava, pois estava esperando um jogador de nome. E isso foi para chegar e já tomar aquele choque: ‘É isso aí que você vai viver. Essa é a sua realidade a partir de agora’. Mas, para mim, sempre encarei de uma forma muito bacana. Jogar em um grande clube foi o que me motivou a voltar para o Brasil. Lembro que tinha dois ou três mil seguidores e, do nada, deu um ‘boom’. Aí começaram as cobranças. Tive a felicidade de, já no primeiro jogo, conseguir marcar um gol. A partir de então, a torcida já passou a olhar um pouco diferente. Se você não estiver preparado, pode cair em uma armadilha de se pressionar muito e não render.
Como você enxerga a importância do Palmeiras ter uma categoria de base tão forte?
– Acho que a base é, sem dúvida, o carro chefe de todos os clubes. Por mais que você traga grandes jogadores, se você não abre as portas para a sua base, ainda mais se você investe nela, não tem como não utilizá-la. Fico contente quando vejo jogadores crescendo, se desenvolvendo e conquistando dentro do clube. Para mim, é muito prazeroso quando você faz a base em um clube e consegue se destacar, assim como foi para mim no América. E o Palmeiras tem feito isso muito bem. Lembro quando eu cheguei e tinha bons jogadores que estavam subindo das categorias de base. Porém, o clube estava vivendo um outro momento e precisava de jogadores com um pouco mais de experiência, até porque não era fácil aquele momento. Era um momento de reorganização, de ter jogadores que aguentassem passar por momentos difíceis. A gente sabe que jogador da base, quando sobe, ainda não tem essa maturidade. Isso demanda tempo. Uma coisa é colocar alguns garotos em um time estruturado, com a torcida entendendo o momento. Se for dessa forma, os garotos sobem com mais tranquilidade. Outra coisa é você jogar três meninos em uma situação que o clube tá mal. O desempenho é diferente. Pode ser que um outro se sobressaia, mas a tendência é que ele sofra muito mais. Então, o Palmeiras soube comandar muito bem isso na época do Alexandre Mattos e já começou a trabalhar a base para que, no futuro, pudesse utilizar muitos garotos. Isso é o que tem acontecido hoje. O Palmeiras está de parabéns pela forma que conduziu isso e, hoje, sem dúvida… é uma referência como clube formador.
Você falou sobre a armadilha de chegar em um grande clube quando a torcida espera grandes nomes. Qual conselho você daria para os jovens que estão chegando agora (Atuesta, Flaco, Navarro…)?
– Se você vem como uma aposta e é brasileiro, você já entende um pouco mais da situação, da cobrança… quando é um jogador novo que vem de fora, é um pouco mais difícil a adaptação. Se algum jogador não dá certo, não quer dizer que ele é horrível. Às vezes a contratação é ótima, mas não funcionou dentro do clube. Todo mundo massacrou o Alexandre Mattos, quando contratou o Borja. Porém, naquele momento, todos os times queriam. Era um jogador considerado uma estrela, mas ele chegou e não conseguiu dar o resultado que todos esperavam. Por outro lado, tem outros que chegam sem tanto nome e deram certo. Se eu pudesse dar uma dica para os jogadores que chegam como aposta e querem dar certo seria. Primeiro: acreditar no seu potencial. Se você foi contratado por aquele clube é porque pessoas que são do departamento de futebol te analisaram e viram talento em você. Não foi à toa a contratação. Segundo: não dar tanta importância para redes sociais. Acho que você tem que se blindar um pouco disso. Se a pessoa fala bem de mim, sei que não sou o melhor do mundo. Se ela me massacra, sei que aquilo ali não vai me atingir. Antes de mais nada, é preciso ter autoconhecimento e saber o seu potencial. E, claro, trabalhar da melhor maneira possível e se entregar ao máximo, pois as coisas vão acontecer naturalmente.
O final da sua passagem ficou marcado por conta de alguns ataques em redes sociais. Foi o seu pior momento no Palmeiras? Aquilo motivou a sua saída?
– Depois do início que eu tive, sempre fui muito bem tratado pela torcida. Aliás, sou até hoje. Não tenho nenhuma mágoa do que aconteceu. Minha família é palmeirense hoje em dia. Meus meninos são loucos para ir ao estádio. Sobre o que aconteceu no último jogo… se a pessoa for racional, um pouco racional – não precisa ser muito. Essa pessoa vai entender que eu bati seis pênaltis no Palmeiras e tinha 100% de aproveitamento. E, quando foi para a disputa de pênaltis no Beira Rio, eu pedi para bater um dos cinco primeiros. O Felipão, com toda a sabedoria e experiência que ele tem, não quis me deixar bater entre os cinco. Acredito que ele achava que a disputa terminaria entre os cinco primeiros. Só que, naquele momento, eu lembro que o Felipe Melo chegou para mim e falou: ‘Não vai bater?’. Eu respondi: ‘Eu pedi, mas o Felipão não quer’. Eu ainda não estava negociado. Havia uma possibilidade que a diretoria sabia e, provavelmente, o Felipão também. Era uma proposta muito boa para o Palmeiras na época e existia a possibilidade de eu sair depois daquele jogo. Porém, até o momento, eu não sabia de nada. Só que a disputa foi para as alternadas. Olhei para o lado e vi que eu era o único batedor que estava acostumado a bater pênaltis. Todo mundo se entreolhou e perguntou: ‘Quem vai?’. E aí eu assumi a responsabilidade de bater. Se eu bati pênalti voltando de lesão, não vou deixar de bater em outra ocasião. Sabia que o Lomba pularia para o lado, então decidi bater no meio. Fui com total tranquilidade para bater o pênalti, já sabendo da ação dele. Só que o meu pé deslizou um pouco, peguei embaixo da bola e, por infelicidade, a gente acabou desclassificado. E a gente sabe como é o torcedor, né? Torcedor é paixão. E fizeram algumas ameaças à minha família como se eu tivesse perdido o pênalti por estar sendo negociado. Eu tenho uma passagem maravilhosa no clube. Vou querer sair manchado por um pênalti que eu erro nas oitavas de final? Jamais eu queria isso. Entendo que foi uma minoria que fez isso. Por mais que você sofra, você sabe que aquilo ali faz parte do futebol. O externo você não tem controle. E não foi por isso que eu deixei o clube. A proposta foi, realmente, muito boa para e para o Palmeiras e para minha família.
Como você enxerga essa diferença entre times europeus e times brasileiros?
Pode-se dizer que o Palmeiras jogou o seu máximo naquele jogo contra o Chelsea. Era aquilo ali que se esperava, que deveria ser feito. Elogiei o trabalho realizado pelo Palmeiras para o Cícero Souza. Disse a ele que todos deveriam ficar orgulhosos. E aí, vem o que você falou… o Palmeiras deu o seu máximo, mas o Chelsea, não. E eles foram campeões. Isso porque, por mais que o Palmeiras tenha um super time, o Chelsea tinha uma seleção jogando em um time. Por mais que um clube sul-americano vá para o Mundial com chance de ser campeão, é preciso que esse time faça uma partida magnífica, mas também que o time europeu não faça um bom jogo. Há uma diferença. Ali estão os melhores do mundo e nós temos que entender. Mas os times podem surpreender, assim como aconteceu com Al Hilal e Flamengo. A chance do brasileiro ganhar do asiático ou africano é maior. Para esses times passarem contra o Flamengo, tem que fazer aquilo. Jogar o seu melhor, não errar e contar que o sul-americano vai jogar mal. Isso porque, por mais que o asiático ou africano jogue bem, se o brasileiro jogar muito bem… vai passar o brasileiro. O futebol mudou muito e dificulta, mas o lado individual ainda conta bastante.
Abaixo, confira a entrevista na íntegra.
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