Campeão único: Palmeiras 2 x 0 Náutico, campeão da Taça Brasil-67

Veja no YouTube as imagens do CANAL 100, editadas por Thiago Uberreich, na Jovem Pan

O pai-de-santo Edu estava irritado. Desde a semifinal, quando o Náutico eliminou o favorito e então campeão da Taça Brasil Cruzeiro, ninguém do clube ou comissão técnica o procurara. Ele o não trabalhara pelo Náutico na derrota por 3 a 1 na primeira partida decisiva, na Ilha do Retiro. Mas ele disse a O ESTADO DE S.PAULO ter sido “fundamental” na vitória por 2 a 1 no Pacaembu que poderia ter sido o jogo do bicampeonato do Palmeiras. Para a finalíssima, arestas aparadas e contas acertadas com a direção do Náutico, Edu estava escalado por Duque. E acreditava no título pernambucano.

Mas não era só em outros campos que vinha a força do Timbu. Duque armara um time fisicamente muito resistente. Rápido. E de técnica considerável. Sem craques. Mas homogêneo. Rival forte para um Palneiras técnico e competitivo. Time que não se afobava. “Nosso time é muito frio”, dizia o nosso treinador. Chegava a irritar por certa lentidão. Mas se perdera na derrota dois dias antes no Pacaembu pela pressa que levara a decisão ao Maracanã.

O Palmeiras de Mário Travaglini também não atuara bem na segunda partida pela audiência de Ademir nos primeiros 41 minutos. O treinador achava que o Divino estava desfocado na quarta-feira em São Paulo por ter se casado no civil no domingo, no Chile, e se casaria no religioso na quinta-feira, na Igreja Santa Cecília, em Bangu, na véspera do terceiro jogo. Nenhum atleta foi liberado por Travaglini para a celebração.

A lua-de-mel de Ademir não foi com Ximena no Hotel Plaza. Foi com César Maluco na concentração no Rio de Janeiro.

Moral de Ademir com Dom Mário não estava das melhores por aqueles dias. Tanto que o Divino foi o camisa 8 e o grande Dudu foi o 10 de verde (e meias também verdes) na decisão.

O Náutico vinha com uma mudança. O goleiro Válter que terminara o jogo em São Paulo seguia na meta. O titular Lula machucara o dedo e nem para o Rio viajou. A direção do clube teve de trazer às pressas o terceiro goleiro Aloísio Linhares para a suplência de Válter.

O Palmeiras repetiu o time dos 3 a 1 no Recife. Servílio não tinha condições de jogo pela lesão muscular. Rinaldo foi desaconselhado a atuar. O clube temia que sua inscrição apenas para a decisão pudesse ser contestada. O nubente Ademir reassumia suas funções no meio. Um pouco mais ofensivas pela ausência de Servílio e pela presença de Zequinha mais atrás, com Dudu saindo mais para o jogo.

No banco, Travaglini tinha os históricos Valdir e Djalma Santos ao lado do zagueiro Osmar, do volante Júlio Amaral (pai do atacante Leandro Amaral que atuaria no Palmeiras em 2003), Toninho e o ponta Dorval, ex-Santos.

A bola rolou 21h, 15 minutos mais cedo que o horário habitual na Taça Brasil. O palmeirense em São Paulo acompanhou a partida pelo rádio. Ela só foi exibida em videotape no dia seguinte, no sábado: a Excelsior (canal 9) exibiu 13h; a Tupi (4) passou 16h; a Bandeirantes, em seu primeiro ano no ar, só 20h.

Como o Palmeiras tinha saldo de gols maior nos dois confrontos, tinha a vantagem do empate. Mas só depois dos 30 minutos de prorrogação.

Não necessários. Com 7 minutos, o mesmo tempo do belo gol de Ladeira no Pacaembu, César abriu o placar no Maracanã do mesmo modo. Depois de escanteio batido por Lula pela esquerda, Fraga desvia a bola no pé do Maluco. Uma pancada forte, no alto, da entrada da área, quase no bico direito dela. Desta vez no canto esquerdo do goleiro Válter, vencido também pelo desvio da bola no lateral Clóvis (que fizera parte do elenco campeão da Taça Brasil-60 pelo Palmeiras).

O Palmeiras não parou de atacar. Assim como a chuva forte no Rio não parou durante a final. O público baixo na decisão se justificava: pouco tempo de um jogo a outro (inesperado) para a logística de viagem muito mais complicada naquela época; chuvas fortes desde a véspera; final do mês; quatro dias depois do Natal. Não tinha como levar muita gente mesmo ao maior do mundo de então. Apenas 16.577 foram os presentes. Quase todos os torcedores dos clubes cariocas torcendo pelo Náutico. A arquibancada não era “neutra”. Era Náutico.

César poderia ter ampliado logo depois, aos 19. Quando driblou Válter, ajeitou o corpo e, com Clóvis sobre a linha, resolveu colocar no canto esquerdo a bola que explodiu na trave. Talvez o gol mais fácil desperdiçado pelo maior goleador do clube desde a mudança de nome, em 1942.

A chuva forte atrapalhou demais a qualidade do jogo. Mas não a de Ademir. O camisa 8 foi 10. Como sempre. Ainda mais em finais. Só não fez 2 a 0 ainda no primeiro tempo porque Fraga salvou. Duque mexeu na equipe pouco antes do intervalo. Paulo Choco no lugar de Ladeira.

Mas não mudou o jogo para a segunda etapa. O Palmeiras sempre melhor. Embora o Náutico tenha chegado mais. Pérez fez grande defesa aos 7, evitando o empate em chute de Nino. Paulo Choco teve ótima chance aos 10, mas não soube completar. Diferentemente do nubente Divino.

Aos 33, o capitão Dudu fez a tabela e tocou para Ademir na entrada da área. Ele passou por Fraga como quis e, na saída de Válter, bateu cruzado e forte. 2 x 0 Palmeiras.

César perderia outra chance na cara do gol aos 42, jogando por cima. Aos 44, Tupãzinho estava pra fazer o terceiro quando Armando Marques marcou saída de bola no cruzamento de Ademir, depois de grande jogada do Divino, que mandou a bola quase sem ângulo na trave pernambucana.

Ademir foi o craque do jogo. Dudu, Tupãzinho, Baldocchi e César (“mesmo perdendo cinco grandes chances” na visão do ESTADÃO) foram outros nomes da conquista do segundo título nacional do Palmeiras em 1967, depois do primeiro Robertão, em junho.

O time fez festa no gramado dando a volta olímpica com a bandeira do Brasil. Como fizera na conquista da Copa Rio de 1951. Outros jogadores também carregaram a bandeira do Estado de São Paulo. “O Maracanã é nossa casa. Aqui é mesmo o Recreio dos Bandeirantes”, disse o treinador, que sete anos depois seria campeão brasileiro pelo Vasco no mesmo palco.

O elenco permaneceu dia 30 de dezembro no Rio para celebrar o título e o casamento de Ademir e Ximena. Travaglini e a direção do clube então liberaram a festa. O Divino não precisaria mais dormir com César Maluco.