Luís Pereira, 70

Já contei que tive uma infância feliz como o que veio depois dela na vida. Sou sortudo com quem amo, com o que amo, com o que faço, com o que falo.

Tão feliz e afortunado que a primeira perda da minha vida foi pelo futebol. Nem foi uma derrota ou título não conquistado.

Foi uma partida. Dupla.

Eu tinha 9 anos e um dia quando Luís Pereira e Leivinha foram vendidos para o Atlético de Madrid. Exatos e incertos três anos do primeiro título que lembro. O Paulista de 1972.

3 de setembro de 1975. O fim da Segunda Academia sem Leiva e sem Luisão. 18 de agosto de 1976 o Dudu já treinava o melhor Ademir da Guia campeão paulista de 1976. Com Leão na meta, ainda Edu e Nei nas pontas. Tinham chegado Jorge Mendonça, Toninho e Rosemiro.

Mas não era a mesma coisa. Não seria. Não seríamos campeões até 12 de junho de 1993. Dia da Paixão Palmeirense. Meu primeiro documentário. Quando entrevistando Leivinha eu chorei ao lembrar 3 de setembro de 1975.

Ele chorou junto como está na foto.

Desde que tem número em camisa, no final dos anos 1940, e mesmo desde 1914, ninguém vestiu essa camisa 3 como ele. Hoje Luís Pereira faz 70 anos. Nessa década de 70 ninguém jogou mais. Até hoje também não.

Eu diria ainda mais parabéns. Além de obrigado por tudo desde que chegou do São Bento, em 1968, até a partida em 1975. Desde que voltou em 1981 até ser partido em 1984.

Mas tem tanta coisa que vi e senti com Luisão que não tenho as palavras que vou escrever na biografia que estamos fazendo. Ele foi o primeiro palmeirense que vi em campo na minha estreia, em 1973, pela fresta do portão do Pacaembu. Ele será sempre o eterno defensor que vou querer ver.

Até porque quando ele e Leivinha saíram em 1975, chorei pela primeira vez por causa do Palmeiras. Chorei pela primeira vez de saudade que eu não sabia o que era quando eles partiram.

Desde então já chorei muito pelo Palmeiras. Por muitos que partiram.

Mas só de saber que hoje meus ídolos são amigos, que eles são pessoas tão boas como foram craques, a dor daquela saudade infantil hoje é adulta nostalgia.

Eu tinha mesmo razão em lamentar a partida deles. Porque eles vão sempre jogar nos sonhos das crianças de todas as idades.

Parabéns pelos seus 70, Luisão.

Obrigado pelos nossos 104 anos de Palestra.