Mauro Beting: ‘O balão da minha infância – Palmeiras 2 x 0 Al-Ahly’

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Um balão de bexiga verde bateu na minha perna na arquibancada desse simpático mix de antigo Palestra com Anacleto Campanella de Abu Dhabi. Já estava 2 a 0. E eu já tinha chorado como criança quando o bandeirão com o escudo palmeirense se desenrolou no gramado na frente de onde eu estava, no meio de milhares e milagres de palmeirenses.

(Foto: Mauro Beting)

Eu chorei muito quando a torcida puxou o primeiro hino logo no começo do jogo duro esperado. Mas fiquei sossegado quando vi que o mesmo 5-4-1 da ótima estreia egípcia não tinha a mesma saída de bola. Até por Gómez e Luan nada permitirem a eles no bem montado 4-1-4-1 verde. Faltava só uma centelha de criatividade à equipe consciente e madura. Verdão que não errava. Mas não arriscava até o imperial Danilo descobrir enfim Dudu sair da ponta para criar lance que, de primeira, achou Veiga como se fosse Zinho em 1993: um canhoto batendo cruzado na saída do goleiro.

E eu chorei porque achei que pudesse haver impedimento. E não acreditava com aquele bolo de palmeirenses pulando em mim. E eu só querendo pular nos meus amores e filhos. Como a duas fileiras na minha frente estava Daniel. O pai de Piquerez que eu entrevistara pela manhã, e que usa o turbante na foto em que vê o Joaquín com a pelota.

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Ele que me dissera que quase morrera na falha do filho na Montevidéu deles que quase deu no gol de Michael. E como todos também chorou em outro belo gol, no passe genial de Veiga para Dudu mais uma vez ser seminal numa semifinal.

A primeira que eu torcia no meio da minha gente desde os 3 a 0 no Corinthians. No SP-86. Desde 1990 trabalho em cabines. Não consigo ser o pai que Daniel é pra Piquerez. Sempre perto. Atento. Vigilante como na foto. Como o Palmeiras se comportou depois dos 2 a 0. Teve mais uma chance. Eles mandaram bola na trave. Até gol bem anulado tiveram, em rara falha de Weverton que não jogava desde o Uruguai.

Desde quando a torcida palmeirense cantou todo o jogo. Em pé. Sem sentar. Sem parar. Como se estivesse embalando o filho de Daniel. O filho de todos nós. A criança que sempre seremos em campo.

(Foto: Mauro Beting)

Verissimo já escreveu que não existe forma adulta de sentir o futebol. Não apenas pela forma fetal como nos encolhemos durante os jogos. Mas pelas reações tão juvenis que nos levam ao berço. Às minhas tardes de Palestra e Pacaembu quando eu só queria um título para acabar com a fila.

E hoje estou em Abu Dhabi esperando quem vier como uma criança que sabe que no final ela sempre vai ganhar o melhor presente: o nosso passado.

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