O sonho de sentir pela segunda vez

Foto: Futebol de Campo.net

Somos marcados pelas memórias, pelas sensações, pelas frações que arrepiam, que roubam uma lágrima boba, que desmoronam o mundo e te deixam ver apenas aquele acontecimento. O que há ao redor se acinzenta e a luz é toda lá. O corpo vive o momento e eterniza no coração, na alma. É um legado que te acompanhará pra todo sempre.

E quando você deseja relembrar, o espirro reage. Ele pode sentir de novo, ele te carrega mais uma vez para todo aquele pacote de emoções. Foi assim, então, que reagimos ao saber que a jornada recomeça, hoje. A luta pela glória eterna, pela segunda vez. Se você viu, que sorte, sente saudades. Se você não vimos, deseja incrivelmente poder presenciar a felicidade plena daquilo que tanto ouviu dizer.

Nervosismo, tensão, desejo. Amor, foco, gana. Receio, trauma, alegria. Arrepio, paixão e esperança. Superação. Conquista. A palavra de quem esteve lá pra gritar São Marcos e chegar ao céu quando Zapata errou a direção. A voz dos que se forjaram anos e anos depois. Dos que veem os pais cantarolarem a obsessão e sonham repetir. Ninguém hesita em sentir. Ha algo de muito especial nesse torneio. É tudo maior, mais intenso. Mais saboroso.

Não vira música, não se torna um mantra de gerações, algo que foi pequeno. Em cada coração, uma história diferente. Os pênaltis que pararam nas mãos do santo, o gol espírita quando tudo parecia perdido, o outro gol ainda mais improvável quando era impossível acontecer de novo. O chute que atravessou meio campo para explodir na rede instransponível. O Palmeiras nunca teve jornadas comuns pela América. Sempre foi lendário. E campeão.

Nem sempre deu certo. Só uma vez. Faz tempo. E essa é a trajetória de ser torcedor. Sofrer até a recompensa. Foram duas décadas pelo brasileiro. Foi a escada do paraíso e como foi bom estar lá. O alviverde já sentiu o sabor da conquista e quer de novo. Duas décadas, de novo? Porque não?, te pergunto. Sonhar custa? Nada é tão palmeirense do que rabujentar a expectativa e viver a disputa como se fosse a última das disputas. Vibrar até a voz falhar. Coisa nossa.

Que devaneio pensar em buscar a América sem pagar pelo Super Bowl. Ver meu time chegar em meio à fumaça. Vê-lo ter nas mãos o continente em forma de taça. O sonho é vivo. Respira, fala, reage, suscita. Traz a memória. Refaz o momento. Incentiva, enerva. Enche o coração de fé, de esperança e ansiedade. Faz lembrar que a Libertadores da América está de volta. E o Palmeiras a buscará, conosco. De novo.