Voltamos a ser você

(Foto: César Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação)

Eu fui você quando Zapata bateu para fora. Quando Marcos pulou para o lado esquerdo. Quando você enfaixou a perna do Arce. E fui você quando Oséas chutou sem ângulo. O Palmeiras virou contra o Flamengo. Nós fomos juntos o Palestra Itália. Seremos nós no Allianz. Nós que apoiávamos com Júnior e com gente que canta e vibra. Nós que rimamos Felipão com Japão, em 99, pedindo para você ficar. E você ficou.

Nós pedimos para você ficar em 2012. E você saiu. Nós caímos. Nós dois. Assim como nós fomos o pedaço de cabeça de Betinho desviando para o gol do Coritiba. Fui você em cada chute do Marcos Assunção. E em cada engrossada de Rivaldo (o genérico, claro), Gerley, Mazinho. Fui – e acreditei em – você quando Luan corria. E errava. Quando Márcio Araújo canelava. Também fui Felipão quando Pierre saiu. Pierre que tanto foi o Palmeiras. Mas – ainda assim – eu era mais você.

Fui você quando Marcos fez a defesa mais importante da história do Palmeiras. Quando Marcelinho desperdiçou. E você saiu, sem rumo, pelo campo do Morumbi. Pelo canto que sempre te acolheu. Nós gritamos juntos. Comemoramos muito. Choramos juntos – mesmo você não estando naquele momento – quando Romário virou. Quando nossa defesa parou. O Vasco passou. E quando Alex dominou. E quando Alex fuzilou o River Plate. Quando você tentou trazer Alex de volta. E não levou em 2002. Mas venceu.

Fui Ronaldo e fui você. Principalmente Ronaldo. Quando acreditou no rebote. O rebote que você proibia, no treino, com medo de lesão. E Rivaldo. E Ronaldinho. E Denílson puxando a fila. Marcos impedindo os alemães. E os belgas. E os turcos. Marcos só foi Marcos por causa sua. O Marcos que tanto foi o Palmeiras por bastante tempo.

Também fui você em 2014. Me decepcionei como você. E com você, não vou negar. Dante jogou e falou. A Alemanha fez o que quis. Triangulou, armou, engoliu o meio de campo. Mastigou o Brasil. Fomos para o abismo. Você virou reflexo de ultrapassado. Sua imagem mudou da água para o vinho. A nossa, aliás. Nós viramos o país do vexame. A gota de chocolate. A decepção e a reciclagem. A humilhação escancarada nos olhos de David Luiz. No nosso choro.

Disse alguém há dois mil anos atrás: "não somos mais aquelas pessoas nem é mais o mesmo aquele rio". Não sei qual versão de você é a que chega. O que volta ou o que saiu pela última vez. Mas o que ficou, ficou. Para o bem e para o mal. Para o verde ou o amarelo.

Fomos você. E voltamos a ser.