Voz Palestrina: ‘Ao meu velho, por nós e pela Libertadores’

Porque nós somos tão diferentes que somos exatamente como o Palmeiras

Desculpe por escrever e jamais assinar. Você não vai saber que fui eu e tampouco que é pra você, ainda que eu saiba e você sinta. Não comungamos das mesmas preferências em muitas coisas, mesmo que sejamos a cópia escrita e borrada um do outro. Meu jogador preferido é quem você mais odeia. Quando eu gosto do que vejo, você lembra dos times que não vi. Quando baixo a cabeça e confesso pessimismo, você, sereno, afirma como quem nunca duvidou: ‘vai ganhar’.

Como assim, penso eu. Você nem pestanejou sobre isso. Disse que vamos vencer e olhou com a confiança que nunca faltou quando eu sempre precisei. Minha companhia silenciosa pra tudo e meu suporte para estar aqui, com esse texto. Meu primeiro jogo no estádio, e meu último, também. Sempre fomos, nunca fui. Em 2015, até fui, a seu contragosto, preocupado com uma final, um clássico e um moleque pouco safo. Juntos, ao telefone, não entendíamos nada o que dizíamos, mas a emoção era comum. No 31 de janeiro, minha tremedeira foi vencida para te ligar. Antes de qualquer coisa.

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Em 2016, te liguei pra berrar que havia acabado a maldição. Você bebia como se não houvesse amanhã e ainda pulou na piscina com o celular na mão. Foi o dia que mais chorei num estádio de futebol, coisa que nunca fiz na sua frente. Acredito que você não tenha segurado a emoção, também, coisa que nunca te vi fazer ao vivo. Evitamos, desde sempre, a catarse compartilhada. Eu não tenho coragem, ainda que você me conheça como ninguém. E eu saiba como você é – o exemplo que sigo.

No próximo sábado, não vamos, como em outras decisões, compartilhar o sofá. Uma superstição nossa. Você não confessa, mas foge do nervosismo. Eu não assumo, mas não sou tão calmo quando aparento. Vou estar com esse mesmo espaço em branco, contando a história da terceira taça da América, se Deus permitir. Não falei com o lá de cima, pai de todos, mas o meu pai me disse que seremos. A palavra que mais tem valor na minha ainda breve passagem por aqui. É só o que eu preciso ouvir.

Não te mostro minhas crônicas porque não tenho coragem pra isso, essa tal ‘arte’ que nunca pertenceu à nossa família e raízes, acostumados com o esforço físico em troca do prêmio. Sempre criei na sombra, e você não tem culpa por isso, não. Eu não tive o devido peito para contar que eu sei contar histórias. Você sabe que eu sei falar de Palmeiras e muito por sua culpa, que me deu essa herança. Passou o seu amor pra mim. Torcemos à nossa, tão diferentes, mas tão parecidos.

E nós somos reflexo do que é o Palmeiras e o palmeirense. Nem sempre nos reconhecemos, nos entendemos, nos justificamos. Nem sempre confessamos aquilo que sentimos, mas sempre somos o suporte um do outro. Eu não vou te mostrar esse texto, bem como milhões de alviverdes não vão fazer declarações de plena fé e segurança pra sábado. A verdade é que, na última linhas, somos amor por uma cor. De pai pra filho, de avó pra neta, de amigo para desconhecido. Uma família só.

Juntos pelo Tri.

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