Quando eu era bem menino, minha maior ansiedade era aguardar às notinhas de imprensa, ainda no jornal impresso, dizendo qual era a estimativa de público para os jogos no Palestra Itália. Não à toa, minha primeira vez no Jardim Suspenso foi num duelo contra o Paysandu, tarde de sábado com bilhetes esgotados. Era um time ruim, mas éramos vozes muito competentes. Eu sempre vi em nós o camisa 10.
Assim me mantive até aqui, mais de 20 anos depois. Sou um romântico do futebol e, como todos eles, me emociono pelo poder sinérgico de um estádio abarrotado e me fascino pelo poder arrebatador da corneta. Ele inspira os médios a entregarem mais do que sabem, ela antecipa o final da carreira dos folgados e potencializa os melhores. Ela causa uma revolução em 90 minutos de futebol. Faz guerra num domingo de sol ou réveillon numa quarta noturna e chuvosa.
O Palmeiras é tudo isso, mas em proporções muito mais dramáticas. O palmeirense não corneta, ele desabafa. Ele desconta o universo num gestual super-expressivo e num berro capaz de trincar vidros. Eles esmurra o vento como se fosse o rosto de um inimigo. E tudo isso pra protestar por um chute torto. Ao passo que ele canta como se São Paulo inteira pudesse ouvir. E pode, sabemos bem. Ele incentiva até o última gota de suor, desde que ele veja a última gota de suor ficar caída no sintético.
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É chegada a hora de dizer adeus à fase do silêncio. Triste, sofrida e também vitoriosa. De um enorme vazio que não pôde celebrar o tetra da Copa do Brasil e nem a memorável conquista do Paulistão. É tempo de aquecer as vozes, e as cornetas, para um renascimento. Começa no próximo sábado um novo Palmeiras, um novo Brasileirão, um novo Abel Ferreira. Existem dois mundos e eles trocam bastões nesta semana.
Abel terá de se reconstruir e se preparar mentalmente para, enfim, conhecer os adeptos. Ele não sabe, por mais que estude exaustivamente, o que é sentar-se à frente da Turma do Amendoim. Tal qual ser palmeirense, é algo que não se pode explicar a quem não é. Ele vai debutar mesmo sendo já um campeão e velho de guerra com essas cores. É preciso encarar como recomeço, um fresh-start que renova as motivações para uma competição que fugiu, e muito, das mãos.
Ao elenco, um reencontro. A últimas vez que eles nos viram, não eram campeões da América. Nem da Copa do Brasil e nem do Paulistão. Eles compunham um elenco que buscava, com excessão à uma base vencedora, trilhar seu próprio caminho de glória. E agora tem esse poder debaixo dos braços. Não sei se serão ovacionados pelo que fizeram ou cobrados para fazerem mais. Seria palmeirense acreditar que serão as duas coisas. Impaciente e grato, como é quem torce por essas cores.
Um novo mundo começa em menos de uma semana.
Estaremos, enfim, de novo, de coração. E de corneta.
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