Acabou em pizza – Táchira 0 x 4 Palmeiras

Ademir tinha nome Divino. De craque. Mas o apelido Bugalu não dava a mesma imponência. Só que combinava melhor com a pança bem palmeirense

Ademir tinha nome Divino. De craque. Mas o apelido Bugalu não dava a mesma imponência. Só que combinava melhor com a pança bem palmeirense. Como os filhos que criou com tanto amor e esforço e suor de muitas jornadas como metalúrgico no ABC. Trabalho pesado que nem as 15 erisipelas o tiravam do caminho. Ainda que mancasse por conta das feridas.

Bugalu não viu nesta semana em que o xará Divino celebrou 80 anos goleando o São Paulo na final do SP-22 o Palmeiras começando em San Cristóbal a jornada pelo tetra americano. O tri seguido. Repetindo os 4 a 0 de domingo com apenas quatro titulares contra o pavoroso Táchira. Quatro que também seriam absolutos em qualquer time da América dominada: Weverton, Gómez, Dudu (que fez o primeiro gol), e Veiga (autor do segundo).

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O Palmeiras acabou repetindo a sua maior goleada como visitante na Libertadores (no Melgar, em 2019). E manteve a sequência impressionante sem perder fora de casa daquela mesma temporada. Facilitada com os gols de Navarro. O primeiro impedido. O primeiro dele depois de 16 conclusões desde que estreou. O segundo na finalização seguinte.

Sacando a cavalaria, João Martins poupou o elenco desgastado e começou muito bem. Poderia ter feito muito mais contra adversário fraquíssimo. Aproveitando o melhor momento de Abel no Palmeiras.

Quase um sonho inimaginável de vitória e conquistas quando ele chegou em novembro de 2020.

Um delírio inimaginável quando essa foto foi tirada. Como conta José Matheus, o filho dele. Foi no dia da eliminação para o Tijuana, no Pacaembu, em 2013:

– Depois da noite de milagres do Bruno no jogo de ida, ele tomou aquele frango na volta. Meu pai nem bravo ficou. Ele estava feliz de estar com os filhos. Antes da derrota, ele tomou a Ypióca dele no bar, atravessamos o corredor da Mancha com um barulho ensurdecedor, e ele nunca se sentiu mais vivo. Quando passou pelo tobogã, disparou: ‘Já peguei umas meninas nesse escadão’.

– Eu e meu irmão não conseguimos parar de rir. Depois da eliminação, ele encheu o bucho de cachorro quente, e, nessa hora, meu coração até aqueceu quando ele pediu para comprar mais um pra ele; era como se eu pudesse retribuir um pouco do tanto que ele me deu. Sobretudo a melhor herança que ele podia dar: o Palmeiras.

O trabalho pesado fazia Bugalu dormir cedo.

– Os poucos títulos que vi entre 2000 e 2014 (ano de seu falecimento) era sempre eu que o avisava. Quando então ele acordava todo eufórico. E celebrava no boteco, com o chapéu e o barrigão não cabendo na camisa. Enchendo o saco sempre que possível dos corintianos. Ele dizia que preferia seis meses de dor de dente a ver o rival.

Bugalu não viu tudo que os filhos celebram desde 2015. E que quase desdenham de uma goleada fora de casa.

Mas eles aprenderam com o Palmeiras e com o pai que algumas histórias de amor parecem tão malucas como carícias no tobogã. E que todos os momentos merecem um cachorro quente e uma Ypioca para rebater para comemor.

Ou as duas pizzas que o José Matheus me mandou de graça e de coração em duas noites de jornadas de jogos trabalhadas na Jovem Pan.

Como a desta estreia vitoriosa como a partida anterior em 2021, em Montevidéu.

Claro que é tudo diferente. E é mesmo cada jogo com sua história e geografia. E ventania.

Mas quando tudo acaba em pizza ou cachorro quente que a gente sente o sabor da vitória que é poder acordar quem a gente ama com boas notícias.

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