Amarcord: Bragantino x Palmeiras, SP-89

Os gols de 1989

10 de junho de 1989. O melhor time do Paulistão defendia a invencibilidade no Marcelo Stéfani. A mesma que garantira a Taça dos Invictos na fase inicial, com um duríssimo 1 a 1. Agora era outra fase. Quartas-de-final. Triangular em dois turnos. Desde 1982, na Copa, nessa mesma fase, aprendi que dava zica e não Zico esse negócio…

Mas não tinha como dar errado. O Palmeiras já vencera o bom Bragantino no Pacaembu por 2 a 0, depois do empate na primeira rodada em Novo Horizonte. Um dos gols foi do volante Júnior. O Dorival hoje treinador. Ele ficou pistola com alguns companheiros de time que ficaram zoando os rivais, falando dos salários maiores que recebiam no Palmeiras, instigando ânimos para o jogo de volta, na tarde de sábado, pela TV…

Batalha também nas arquibancadas. A Mancha causou na estrada para Bragança, na chegada à cidade, dentro do estádio com brigas com a PM, e a célebre mordida de um torcedor em um pastor alemão capa preta… O rastro de destruição na volta da torcida a São Paulo foi a pá de cal em uma campanha até então brilhante.

Eu já estava ansioso com o jogo. E fiquei pior com a morte da mãe do então candidato do PDS à presidência, o ex-governador Paulo Maluf. Eram 15h quando Dirceu Brizola, apresentador do programa que eu produzia, me avisou do falecimento de Maria Maluf, aos 84 anos. Mãe do nosso entrevistado no programa CRÍTICA & AUTOCRÍTICA, que seria excepcionalmente gravado na noite daquele sábado, 21 horas, para ser exibido como sempre, domingo, 23 horas.

Com todo o respeito à família, era preciso remarcar outro entrevistado, desmarcar o estúdio na Band, e pensar em novo programa ao vivo, no domingo à noite. Numa época sem celular, era tão difícil quanto catar os cacos daquela tarde onde o cachorro era mordido por torcedor. Onde o melhor time do SP-99 foi derrubado pela única vez, depois de 23 jogos sem derrota.

O Palmeiras seguia sem o artilheiro Gaúcho. Ele fez muita falta no ataque de um time que se perdeu completamente a partir do gol de falta de Gil Baiano (nosso lateral titular no título brasileiro de 1993), aos 29. Na sequência, jogada em cima do lateral Abelardo, o ponto mais fraco da equipe, e gol no rebote de Zé Rubens, aos 33.

Neto, o craque Neto, havia batido de longe uma falta no travessão. Mas o time não conseguia nem marcar e nem articular. Gil Baiano fazia o nome às costas dele e para cima de Abelardo.

Na segunda etapa, os palmeirenses mais brigavam com a PM do que assistiam ao jogo. Como nossa zaga viu Gallo apanhar um rebote e ampliar, aos 15. 3 a 0 Bragantino.

Ao final do jogo, eu ainda procurando entrevistados para o dia seguinte, e o

Palmeiras fazendo contas. Ele poderia ser eliminado sem estar em campo na quarta. Era só o Bragantino derrotar o

Novorizontino, fora de casa. Foi isso que fez o time de Luxemburgo: 1 a 0. Palmeiras, campeão do turno e returno eliminado ainda nas quartas-de-final… Típico da fila sem títulos que ampliava e que criou a célebre piada “Bragantine’s 12 anos”. Jejum envelhecido em barris de carvalho.

PALMEIRAS 0 X 3 BRAGANTINO

Competição: Campeonato Paulista/Terceira Fase

Data: sábado, 10/junho (tarde)

Estádio: Marcelo Stéfani

Cidade: Bragança Paulista (SP)

Juiz: Luís Carlos Antunes (SP)

Renda: Cz$ 54 674

Público: 9 778

PALMEIRAS: Velloso; Édson Abobrão, Toninho, Darío Pereyra e Abelardo (Gaúcho); Júnior, Gérson Caçapa (Eraldo), Edu Manga e Neto; Mauricinho e Marcus Vinícius.

Técnico: Émerson Leão

BRAGANTINO: Paulo César; Gil Baiano, Júnior, Nei e Biro-Biro; Souza, Valmir e Zé Rubens; Ivair, Gallo (Gatãozinho) e Luís Müller (João Batista)

Técnico: Wanderley Luxemburgo

Gols: Gil Baiano 29 e Zé Rubens 33 do 1º; Gallo 15 do 2º

Expulsões: Edu Manga e Gatãozinho 35 do 2º