Mauro Beting: Abel, vá até a montanha

O Galo é a montanha palmeirense rumo a Montevidéu. Tem como dar volta. Até fazer um túnel. Mas para isso é preciso um mínimo de ataque.

Em março eu trocaria meus dois filhos e minhas duas cadelas pelo Abel. Hoje, pegaria uma de volta. Mas devolveria se o Palmeiras fizer um gol de cabeça com o Gómez aos 12 minutos, depois de escanteio do Veiga, levasse o empate do Hulk no começo do segundo tempo, mais três bolas na trave, e mais quatro defesas daquelas do Weverton.

Tudo possível. É futebol. Libertadores. Palmeiras. Dois grandes times. Dois ótimos treinadores que em janeiro decidiram a América com equipes inferiores tecnicamente a estas.

Por isso relativizar e defender empedernidamente o atual campeão que não criou chances em casa (também pouco as concedeu) – e só finalizou um peteleco de fora da área em gol – é defender de modo indefensável e mais ferreamente o Palmeiras do que o time de Abel na ida contra o Galo.

Uma coisa é repetir o notável desempenho coletivo que não sofreu bolas na meta em 180 minutos contra São Paulo e Atlético (e mais um pênalti na trave de Hulk). Outra é abdicar do ataque. Contra o Tricolor foi a melhor partida das 88 de Abel. Um show. Não esse “xô, ataque” da semifinal.

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No imprescindível portal Coaches Voice, Abel deu a letra (em maio de 2019):

“Da minha forma de ver as coisas, o grande desafio [no Football Manager] não estava em comandar os grandes clubes, senão em enfrentá-los com equipes com menos recursos.

Então, sempre escolhia os clubes pequenos [no game]. Equipes da segunda divisão, como o Penafiel, de Portugal, onde comecei minha carreira como jogador, ou em clubes como o Braga. Equipes que nunca ganham títulos, como o Tottenham.

E sempre acreditei que poderíamos ganhar. Como? Jogando como eles? Atacando da mesma maneira que eles?

Não.

Como um cara pequeno, como o Napoleão, conseguiu grandes vitórias?

Com estratégia. Com artimanhas”.

Nenhuma dúvida. Muito esperto e inteligente da parte dele. Assino ao lado. Há décadas.

Não adianta se atirar contra a Alemanha quando ela é melhor do que você no Mineirão. É preciso ter humildade para entender o momento de uma camisa que nem sempre é vestida por melhores atletas do que os rivais.

Mais Abel, em 2019:

“Se o teu adversário está no mesmo nível que você, então tudo bem, pode atacá-lo. Mas se for enfrentar uma montanha, necessita fazer de uma maneira diferente.

Em outros jogos, você quer ser protagonista: dominar a posse de bola. Mas, às vezes, tem que aceitar que o rival é mais forte que você. E, nesses casos, é preciso estar equilibrado.

Por mais que gostariamos de ser o Manchester City, não temos um Guardiola e não temos um Bernardo Silva. Então, que tenhamos humildade para saber que cada jogo exige um enfoque diferente”.

O Galo é a montanha palmeirense rumo a Montevidéu. Tem como dar volta. Até fazer um túnel. Mas para isso é preciso um mínimo de ataque. Ousadia. Até por que levar aos pênaltis no Palmeiras em 2021…

Abel:

“Te digo uma coisa: não tem fórmula perfeita. Não há um plano de jogo perfeito. Somente há o plano que você acredita. Talvez, você prefira o meu, talvez o do Guardiola ou do Simeone”.

Hoje e na próxima terça eu quero o do Abel de Avellaneda. É o que temos. O que nos fez ter a Libertadores passada e pesada. Aos trincos e brincos.

Fala, professor:

“Afinal, quanto mais você pensa no resultado, mais ansioso fica. Não faz sentido simplesmente se preocupar em passar na prova: é preciso estudar para isso. Foca no processo de aprendizagem e o resultado virá.

Também é preciso mostrar humildade, e isto digo aos jogadores. O dever de fazer as coisas da melhor maneira todos os dias.

Nem pense no resultado. Do mesmo jeito que fazia com minhas equipes no Football Manager, será difícil ganhar títulos.

Mas eu jamais desistirei.”

Eu também não, Abel.

Eu quero o mesmo que você, palmeirense de Penafiel.

Vai ser muito mais difícil ganhar estes títulos em 2021.

Mas eles pareciam mais improváveis em 2020.

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