Meu altar particular: 54 anos de Evair

Por Thiago Rocha

Eu não lembro como ele chegou, mas sei da história toda. Mas lembro de 1992. Não tínhamos um time forte, mas tinhamos vontade. Era um esboço de 1993. Chegou como “bichado”, machucado e, de fato, ficou ferido. E foi afastado. Como se esse afastamento fosse eterno. Mal saberíamos do que viria na sequência. Deficiência técnica, esse foi o argumento. Argumento que nenhum torcedor poderia contrariar, já que nem se pode vê-lo em campo direito para tirar as dúvidas. Minha primeira camisa oficial do clube foi a número 9, não por acaso. Pedi para o meu pai. Minha geração teve a honra de poder ver em campo o moço de Crisólia, como narrava Fiori Gigliotti a cada gol ou lance do futuro matador. Uma camisa 9 que foi ostentada como se fosse uma bandeira, um símbolo de eternidade.

O destino quis que Evair Aparecido Paulino surgisse em nossos braços e por nós fosse levantado como um troféu. Um bem maior do que todos os anos de fila e sofrimento antes de 12 de junho de 1993. Fiz um altar na pia da cozinha de casa, com bonecos que simulavam uma disputa de pênaltis, com vela e tudo o que pudesse. Goleiro de um lado, bola do outro como se estivesse prevendo o que aconteceria naquela final diante do nosso maior rival. Alguns anos atrás, meu sonho de menino se realizou. Tive a oportunidade de conhecer o meu maior ídolo. 5 horas de fila para conseguir um autógrafo na mesma camisa 9 que ele usara. Mas o que são 5 horas de fila para quem aguentou 16 anos?

A camisa ficou desbotada de tanto eu usar ainda em 93. Garoto de 10 anos de idade como eu era, andava com o tamanho “G” adulto (não havia numeração para crianças), parecia um vestido que cobria minhas pernas mas não me impedia de cobrar pênaltis dando um pulinho antes do chute final, igual Evair fazia. Aposto que muitos outros garotos, garotas, adultos, senhoras e senhores deram o mesmo pulinho na prorrogação da final de 93. Mas Evair não foi somente isso. Teve gol de falta, de cabeça, de bola rolando, de oportunismo e de qualidade. O mesmo homem ferido em 1992 hoje está cicatrizado em nossas lembranças, nos nossos títulos (Paulista 93/94, Rio-SP 93, Brasileiro 93/94, Libertadores 99).

Se nas alamedas do Palestra Italia houvesse a chance de colocar um busto de um jogador que serviu a nós e nos enfrentou também (o estatuto do clube não permite), eu indicaria sem menor dúvida, Evair.
E se eu pudesse ver ele novamente, falaria mais uma vez, muito obrigado.