O atacante Paulo Nunes estava com tornozelo torcido. Não jogaria no dia seguinte contra o São Raimundo, no Palestra, partida de volta da primeira fase da Copa do Brasil-99. Felipão escalaria Evair com Oséas ou mesmo Juliano, que fizera no fim o gol da virada contra o Santos, na última partida palmeirense no Rio-São Paulo.

Lesão de Paulo Nunes não preocupava tanto quanto a forma do time que na semana seguinte estrearia na Libertadores, contra o Corinthians, que vinha evoluindo com o novo treinador Oswaldo de Oliveira.

Mas ninguém no Palmeiras falava da Liberta. Só do São Raimundo, que havia sido vencido em Manaus por 2 a 1. Evair exagerava:

– São Raimundo tem 40% de chances de se classificar contra a gente.

Júnior estava com febre e era dúvida para o dia seguinte. Como os lesionados Júnio Baiano e seu reserva Rivarola. Jackson seguia fora por lesão no tornozelo.

Felipão seguia preocupado com o desempenho do time depois de pré-temporada exígua e férias mais curtas do elenco.

O Palmeiras se despediu do Rio-São Paulo-99 com boa vitória em casa contra o Santos. A segunda em seis jogos, o terceiro com o time completo.

Viola abriu a contagem no primeiro tempo, em mais uma bobeada defensiva do time que ainda não se ajustara com Felipão, fruto das férias mais curtas, e da pré-temporada exígua. O Palmeiras estava sendo punido pela competência de chegar longe em todas as competições em 1998.

No segundo tempo, Júnior mandou de direita por cobertura, marcando um golaço (QUE ELE CELEBRA NA FOTO). O Santos desempatou num pênalti mal marcado em Alessandro. Viola mais uma vez bateu muito bem e mandou no ângulo esquerdo de Velloso.

Viola foi o nome do jogo. Ele acabou empatando o clássico. Depois de escanteio da direita cobrado por Rogério no primeiro pau, a bola foi desviada e bateu na barriga do artilheiro santista, tirando o goleiro da jogada. 2 a 2.

A virada (a primeira de tantas em 1999) veio num belo cruzamento de Júnior para baita cabeçada de Juliano. 3 a 2, aos 47 minutos. Placar justo em boa partida do Palmeiras.

Jogadores do Corinthians comparavam o início de 1999 com o ano de 1995, quando a Gaviões da Fiel foi bem no Carnaval e o clube conquistou a Copa São Paulo, e acabaria ganhando o Paulista e a Copa do Brasil. Mas, em 1999, ainda que o ano terminasse campeão estadual e bi brasileiro, prioridade corintiana era a mesma do Palmeiras: Libertadores.

O grande adversário dos paulistas era o Vasco campeão da Libertadores-98. O Cruzeiro se mantinha forte, mesmo depois de três vices em 1998 (Copa do Brasil e Mercosul, ambos para o Palmeiras, e o BR-98, para o Corinthians). O início da temporada era francamente vascaíno. Palmeirenses e corintianos não pareciam tão entusiasmados com as chances na Libertadores.

PALMEIRAS 3 X 2 SANTOS

Torneio Rio-São Paulo/Primeira Fase, sexta rodada

Quarta-feira, 17/fevereiro (noite)

Palestra Italia

Juiz: Jorge dos Santos Travassos (RJ)

Renda: não disponível

Público: 4 067

PALMEIRAS: Velloso; Arce (Rogério), Rivarola, Cléber e Júnior; Roque Júnior, César Sampaio e Zinho; Alex (Euller); Paulo Nunes e Oséas (Juliano)

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Gols: Viola 37 do 1º; Júnior 22, Viola (pênalti) 28, Viola (contra) 35 e Juliano 47 do 2º

Expulsões: Roque Júnior, Zetti e Claudiomiro

⁃ Ninguém jogou bem contra o Vasco no Rio. Vamos ter muito trabalho nas duas próximas semanas.

Felipão estava apreensivo com o Palmeiras para a estreia 12 dias depois na Libertadores-99. Clássico contra o Corinthians. Nos 2 a 0 para o Vasco, o time mais próximo do ideal do treinador não foi bem. Ainda que o rival estivesse mais entrosado e fosse um dos melhores times do país (junto com o nosso, o Corinthians campeão brasileiro de 1998, e o o Cruzeiro vice nacional – e também nosso vice na Copa do Brasil e na Mercosul), o desempenho nem nos treinos empolgava.

O Corinthians também sofrera feio no Rio-São Paulo-99. O novo treinador Oswaldo de Oliveira estava mais pressionado que Felipão. Ele era auxiliar de Wanderley Luxemburgo que, de agosto de 1998 até dezembro acumulara a direção corintiana com a da Seleção. Exclusivo da CBF a partir de janeiro de 1999, Luxemburgo indicara Oswaldo para permanecer como treinador alvinegro em seu primeiro trabalho em clube grande. Quase não aguentou os primeiros péssimos resultados. Mas o Corinthians começava a evoluir. E ele estava prestigiado pelo presidente Alberto Dualib.

Jackson (foto) seguia fora por lesão. Ele disputava posição com Alex na armação do Palmeiras

https://youtu.be/O_YtBh404rE

Sábado de Carnaval de sol e calor no Rio. A quarta derrota em cinco jogos do Palmeiras no Rio-São Paulo-99. Com reservas nos três primeiros jogos do turno, não tinha como o time de Felipão ir além. Contra um Vasco completo é campeão da Libertadores-98, o placar foi o esperado. E não esperneado pelo treinador. Ele queria mais dias de descanso pela temporada insana que teria pela frente, depois de férias de menos de um mês para o grupo. Até quatro partidas a menos no torneio menos importante de 1999 seria bom negócio.

O Vasco poderia ter vencido com a mesma tranquilidade com que havia feito 5 a 1 no Palestra, no turno, contra os reserva alviverdes. Com menos de 15 minutos o zagueiro Cléber cometera dois pênaltis não marcados por Edilson Pereira de Carvalho. O Palmeiras acabaria equilibrando o clássico até o intervalo.

Na volta dele, Felipão quis dar mais força e vitalidade com Roque Júnior no lugar de Cléber que voltava à zaga, e Oséas no lugar de Evair na frente. Mas o Vasco era e estava melhor. Aos 8, Ramón recebeu dentro da área e colocou entre as pernas de Roque Júnior e, por tabela, as de Velloso também. 1 a 0 Vasco. Aos 45, outro bom lance pela direita deu no gol de peixinho de Alex Teixeira. 2 a 0 Vasco.

No final, a torcida vascaína não perdoou o ex-rubro-negro Júnior Baiano, titular do Brasil de Zagallo, na Copa de 1998:

⁃ Ão, ão, ão, Júnior Baiano afundou a Seleção!

VASCO 2 x 0 PALMEIRAS

Competição: Torneio Rio-São Paulo/Primeira Fase, quinta rodada.

Data: sábado, 13/fevereiro (tarde)

Estádio: São Januário

Cidade: Rio de Janeiro (RJ)

Juiz: Edílson Pereira de Carvalho (SP)

Renda: R$ 90 875

Público: 18 175

PALMEIRAS: Velloso; Arce, Júnior Baiano, Cléber (Roque Júnior) e Júnior; César Sampaio, Rogério e Zinho; Alex (Galeano); Paulo Nunes e Evair (Oséas)

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Gols: Ramón 8 e Alex (Vasco) 44 do 2º

O Palmeiras quase completo venceu a segunda partida que disputou na temporada. Mas não conseguiu cancelar o jogo de volta. No calor de Manaus, o 2 a 1 sobre o São Raimundo foi até compreensível. Até pelas menos de duas semana de treinos dos titulares que tiveram menos de um mês de férias depois da conquista da Mercosul-98, no final de 1998.

Zinho abriu o placar aos 21 do primeiro tempo. Alex ampliou aos 13, garantindo a vantagem de dois gols que evitaria o jogo de volta, em São Paulo. Dois minutos depois, numa falha de marcação pelo lado esquerdo, pênalti e gol do São Raimundo.

O Palmeiras ainda tinha chances remotas de classificação no Rio-São Paulo-99. Mas Felipão queria usar os dois clássicos que faltavam para dar mais ritmo e entrosamento à equipe, duas semanas antes do Derby pela Libertadores.

Foi a primeira vitória do Palmeiras depois de três derrotas no Rio-São Paulo. A primeira partida com o time quase completo contra o Fluminense de Parreira, que disputaria em 1999 a Série C.

Não foi um grande jogo. A chuva alagou o Palestra. E quase não temos NOSSO PALESTRA para contar essa história. Nosso Alex Muller estava atrás da meta como repórter da Rádio Bandeirantes quando uma descarga elétrica o derrubou. Acudido por Rubens Sampaio, médico do Palmeiras, ele voltou pro jogo. O Verdão, depois do choque, também.

O Fluminense saiu na frente com Roni. Lançando por Túlio ele chutou, Marcos deu rebote, e o atacante fez 1 a 0, aos 28. Ainda com o gramado empoçado, que prejudicou o Palmeiras que tentava jogar e não conseguia – sobretudo com o técnico e leve Alex na armação.

Felipão resolveu apostar mais na força física e em uma formação mais aberta para o segundo tempo. Tirou um dos volantes Galeano (mantendo o estreante César Sampaio) e abriu Jackson na armação. Sacou Alex e colocou Oséas para brigar na frente com Paulo Nunes, e Evair ficou um pouco mais recuado para armar.

Oséas mandou uma na trave aos 3 e Jackson empatou, de fora da área, aos 4. A partida seguiu equilibrada. Júnior salvou gol da intermediária de Março Brito, em bola que encobriu Marcos. Aos 44, depois de falta batida por Arce, Jackson virou o placar.

A primeira de tantas viradas em 1999.

PALMEIRAS 2 X 1 FLUMINENSE

Competição: Torneio Rio-São Paulo/Primeira Fase

Data: sábado, 6/fevereiro (tarde)

Estádio: Palestra Italia

Cidade: São Paulo (SP)

Juiz: Djalma José Beltrame (RJ)

Renda: não disponível

Público: 8 518

PALMEIRAS: Marcos; Arce, Júnior Baiano, Agnaldo e Júnior; César Sampaio, Galeano (Jackson) e Zinho; Alex (Oséas); Paulo Nunes e Evair

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Gols: Roni 28 do 1º; Jackson 4 e Jackson 44 do 2º

A Parmalat prometera ao atacante Paulo Nunes que bancaria a dívida que o Benfica tinha com o atacante quando o repatriou. Mas o negócio seguia enrolado e ele prometeu não voltar a campo pelo Palmeiras em 1999 enquanto não recebesse 500 mil dólares do clube português – ou da cogestora do Palmeiras.

Felipão ia remontando a equipe agora com os titulares disponíveis depois de apenas uma semana de treinos para o quarto jogo pelo Rio-São Paulo. O rival seria o Fluminense novamente, que vencera o clássico no Rio por 4 a 0.

Ilton José da Costa era anunciado como novo assessor administrativo do clube. O ex-árbitro deixava a comissão de arbitragem da CBF.

Os gols no Maracanã

Felipão já alertara que o time reserva não estava pronto. Mas não para tão pouco. Contra o Fluminense que amargava a Série C em 1999, o time de Parreira enfiou 4 a 0 no Maracanã, pela terceira rodada do Rio-São Paulo. Três jogos, três derrotas, dois gols marcados, 12 gols sofridos. E Felipão ainda sem Velloso, Rogério e Rubens Júnior (sem contrato), e os titulares que só estariam disponíveis a partir de 6 de fevereiro.

O Palmeiras equilibrava o clássico, perdeu gols até com Evair, até a expulsão justa de Júnior Tuchê, dos mais inexplicáveis reforços da Era Parmalat, contratado em 1997 do Vitória. Com um a menos a partir de 27 minutos, não teve mais jogo para o Verdão, ainda que perdendo gol feito co Evair, na sequência. Aos 41, Marco Brito tabelou com Túlio Maravilha e marcou belo gol, de sem pulo. Dois minutos depois, Roger Flores passou para Roni que limpou como quis a zaga e fuzilou Marcos.

Na segunda etapa, pênalti em Túlio, Roger bateu, Marcos defendeu, mas o próprio camisa 10 ampliou, aos 7. Aos 30,com o gramado encharcado, Túlio desencantou, de novo no mano a mano com Marcos, depois de passe de Magno Alves (sim, o próprio, que desde 1993 joga futebol, e ainda segue atuando, pelo Novorizontino, no SP-99).

Felipão tentou fechar o time desde o início com Ferrugem, volante que voltara da Seleção Sub-20, vice-campeão sul-americano na Argentina, dias antes. A equipe tinha quatro marcadores no meio-campo, um meia mais à frente (Jackson), e Evair isolado no ataque. Além da falta de criatividade e contundência, a expulsão de Tuchê atrapalhou tudo.

PALMEIRAS 0 X 4 FLUMINENSE

Competição: Torneio Rio-São Paulo/Primeira Fase

Data: sábado, 30/janeiro (tarde)

Estádio: Maracanã

Cidade: Rio de Janeiro (RJ)

Juiz: Romildo Corrêa (SP)

Renda: não disponível

Público: 12 273

PALMEIRAS: Marcos; Neném, Júnior Tuchê, Galeano e Wágner; Ferrugem, Paulo Assunção, Pedrinho (Taddei) e Tiago Silva (Marcelo Congo); Jackson e Evair (Juliano)

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Gols: Marco Britto 41 e Roni 43 do 1º; Roger 7 e Túlio 30 do 2º

Expulsões: Júnior Tuchê e Émerson

Veja os gols de SANTOS 3 x 1 PALMEIRAS

Não foi tão ruim como havia previsto Felipão. Mas foi o esperado. O Santos praticamente completo venceu os reservas do Palmeiras por 3 a 1 (com os ex-palmeirenses Zetti e Jorginho Cantinflas, e os futuros Argel, Marcos Assunção e Rodrigão pelo Santos, dirigidos pelo eterno Emerson Leão).

Na inauguração da nova iluminação da Vila Belmiro, o Palmeiras mais uma vez não se viu. Mas era compreensível. Felipão encorpou a equipe com Galeano na zaga e Wagner na dele, na lateral. Fechou o meio com três volantes para liberar Jackson para armar para Juliano e Evair ainda fora de forma.

Jackson que havia sido o melhor contra o Vasco teve pouco espaço. E ficou mais difícil logo aos 10, quando Jorginho (treinador interino do Palmeiras dez anos depois) fez 1 a 0 depois de uma série de defesas de Marcos.

Aos 12, Neném (foto) bateu falta e Narciso (treinador interino do Palmeiras em 2012) marcou contra. O Verdão ainda equilibrou o primeiro tempo de baixo nível. Na segunda etapa, porém, no primeiro minuto o estreante Rodrigão desempatou em falha da zaga.

Aos 26, Paulo Assunção foi expulso com rigor excessivo do árbitro. Não teve mais jogo. Alessandro fechou a conta, aos 30, depois de belo lance de Eduardo Marques.

PALMEIRAS 1 X 3 SANTOS

Competição: Torneio Rio-São Paulo/Primeira Fase

Data: quarta-feira, 27/janeiro (noite)

Estádio: Vila Belmiro

Cidade: Santos (SP)

Juiz: Cláudio Vinícius Cerdeira (RJ)

Renda: não disponível

Público: 12 610

PALMEIRAS: Marcos; Neném, Júnior Tuchê, Galeano e Wágner; Pedrinho (Thiago Gentil), Paulo Assunção e Tiago Silva; Jackson; Juliano e Evair (Augusto)

Técnico: Luiz Felipe Scolari

Gols: Jorginho 10 e Neném 12 do 1º; Rodrigão 1 e Alessandro 30 do 2º

Expulsão: Paulo Assunção

Felipão já havia avisado na véspera de Palmeiras (com os reservas) 1 x 5 Vasco (quase completo) pelo Rio-São Paulo-99 que o time escalado no Palestra na estreia da temporada estava “longe de ser competitivo”. E o treinador previa uma partida ainda pior contra o Santos, no dia seguinte. “Não passaremos do primeiro turno do Rio-São Paulo, já que os jogadores que voltaram ontem das férias só estarão disponíveis em 6 de fevereiro”.

Ele iria manter o mesmo time reserva da goleada diante do Vasco. E também mantinha as críticas à diretoria do clube, não da cogestora Parmalat:

– Se não conseguimos nem renovar os contratos dos nossos jogadores, os que estão indo a campo não têm responsabilidade nenhuma pelo que possa acontecer.

O titular da meta Velloso, o volante Rogério (foto) e o lateral Rubens Júnior seguiam sem vínculo.

– Não sou pessimista. Sou realista. Não acredito em Papai Noel. Tenho um time de juvenis, juniores e profissionais sem ritmo de jogo para enfrentar times melhor preparados como o Santos.